quinta-feira, 26 de junho de 2008

23 / 24 de Junho - S. João do Porto



Quadras de S. João

Vou andar pelo S. João
Pois adoro caminhar
E manter a tradição
Deste Santo Popular.

Aquela Fonte secou
E hoje choro com pena
Pois tanta sede matou
A muito Tripeiro de gema.

O S. João é diferente
Para quem quer caminhar:
Não cobra dinheiro à gente
Nem tem hora para acabar!


Bom S. João para Todos!

Beijinhos da "Caramulinha"

quarta-feira, 25 de junho de 2008

31-05-2008 PR9 Terras de Bouro (1)

Trilho da Geira - 9 km / circular
Rede de Percursos Pedestres

“Na senda de Miguel Torga”

A SERRA DO GERÊS
A aventura na Natureza já não tem limites. Não existem mares por explorar e continentes desconhecidos. Apesar das fronteiras geográficas terem caído, permanece ainda um imenso mundo que alguns ainda querem descobrir.
Mesmo dentro do nosso país, muitos ouvem falar da Serra do Gerês mas, para eles é uma serra como tantas outras.

Para a “Caramulinha” é a “Rainha das Serras”!
Nesta serra vive alguma gente, embora ao longo dos anos muitos tenham emigrado, fazendo com que, em parte pouco habitada pelo homem, conserve ainda um grande estado de pureza. Animais e plantas prosperam, para nossa consolação.
Há vestígios dos nossos antepassados e sentimos vontade de os descobrir e reviver.
Para os nossos percursos trazemos sempre aquele espírito de conseguirmos associar e desfrutar da componente física, cultural e paisagística, que enriquecem e fortalecem o corpo e a mente durante este salutar passatempo que são as caminhadas.
Todavia, o nosso Passeio de hoje tem outra componente mais marcante, mais misteriosa e por isso mais apetecível, que é a histórica!
Digo-vos que é necessário ter muita sensibilidade para sentir na pele os arrepios e a emoção que é percorrer a Geira Romana, esse importante testemunho com dois mil anos de história! – construída em condições precárias daquela época, que os nossos antepassados deixaram e o tempo fez chegar até aos dias de hoje.
Para a “Caramulinha”, a Geira ou Via Nova (a Via Militar Romana XVIII do Itenerário de Antonino) inserida no Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) é dos percursos mais fantásticos e mais belos!

Tendo já percorrido noutro ano o troço da Geira ou Via Nova desde S. João do Campo do Gerês, até Baños de Rio Caldo - Lobios, já em território de nuestros hermanos, com uma extensão de aproximadamente 15 km, resolvemos vir hoje percorrer este PR9, da Rede de Percursos “Na senda de Miguel Torga”, para calcorrearmos mais algumas milhas que nos eram desconhecidas “fisicamente”, como é obvio.

Iniciamos o percurso próximo à Capela de S. Sebastião da Geira, erigida no ano de 1867, dedicada a S. Sebastião, um lugar simbólico da Freguesia de Chorense.
Enchemos todos as garrafas de água fresca para a caminhada naquela “misteriosa” fonte ali ao lado da Capela que jorrava abundantemente por duas bicas. Mal sabíamos que “um milagre” ou “finta” esta fonte nos iria pregar…

O Grupo iniciou bem disposto, neste dia de Sol radiante e temperatura excelente para a prática do Pedestrianismo. Percorrido cerca de 1,2 km avistam-se no lugar conhecido por Ribeiro de Cabaninhas, a uma altitude de 450 metros,nesta freguesia de Chorense, os quatro miliários da milha XVII, dois de cada lado da via, três deles epigrafados.

Antes de mais convém lembrar que a Milha Romana corresponde a mil passos, mais ou menos 1500 metros.

O painel descreve assim, mais pormenorizadamente:
«De acordo com Martins Capela um dos miliários será de Caracala (198-217), datável do ano 214, outro de Décio (250) e um terceiro de Caro (282/283). Segundo Martins Capela os dois últimos estavam tombados, numa propriedade contígua ao caminho, pelo que recomenda que sejam colocados junto à via, o que se terá concretizado em data muito recente, pois que Amaro Carvalho da Silva os observou erguidos em 1986/7.O mesmo autor refere um miliário de Tito e Domiciano (79-81), datável do ano 80, já desaparecido na altura em que redigiu a sua obra.Nesta milha a VIA NOVA inflecte para norte, até à milha XIX, embora acompanhando sempre o relevo e mantendo a mesma cota (450 m), com ligeiras oscilações que o caminhante pouco sente. O caminho está em bom estado desde a milha XVII em diante cerca de duzentos metros. Logo no início entre os 145 aos 195 metros, conserva-se uma calçada, que cruza a Ribeira da Igreja. Nota-se, também, uma possível pedreira antiga, cerca de 216 metros depois dos marcos da milha XVII, do lado sul da estrada. Daqui para a frente o percurso é irregular devido ao denso mato e outros factores de degradação. De qualquer modo distingue-se uma segunda calçada entre os 328 e 340 metros. Entre os 850 e 865 metros a Geira foi cortada por uma estrada de terra batida A partir dos 865 metros o caminho volta a estar bem conservado. Registam-se vestígios de rodados de carro aos 775, 849 e 954 metros. Entre os 1190 e 1234 metros existe uma terceira calçada. Novamente, aos 1380 metros, distinguem-se traços de rodados.Entre os marcos da milha XVII e os da XVIII a distância é de 1709 metros. Ao longo do seu traçado, no percurso que descrevemos, a via é protegida por um muro de suporte, em pedra solta.»

Calcorreando por esta Via Romana histórica, agora num terreno a céu aberto, deslumbramo-nos com vistas magnificas sobre Barral, Chorense e Balança, atravessando a Ribeira da Fecha, com belíssimas quedas de água, e na encosta mais adiante viam-se a pastar os semi-selvagens garranos do Gerês.

Alcançávamos, então, a milha XVIII, em cujo painel pode ler-se esta descrição:
«Na milha XVIII, em Minério, lugar de Saim ou Nazaré, na freguesia de Chorense, a uma altitude de 560 metros, existe apenas um miliário, epigrafado, da série de Tito e Domiciano (79-81), datável do ano 80, citado por Martins Capela. Henrique Regalo anota que este marco terá estado enterrado desde o século XIX, sendo exumado, em 1982, por “funcionários da Câmara”.

Junto ao começo do trajecto entre esta milha e a seguinte, do lado direito fica o povoado romano designado Chã de Vilar, ou Saim Velho. A área de dispersão de vestígios é muito ampla e o habitat dispõe-se em socalcos bem visíveis. Este povoado poderá corresponder à mansio Salatiana referida no Itinerário de Antonino. A via foi cortada aos 285 metros, por uma estrada de terra batida. Quase duzentos metros (165 metros) adiante recupera-se o traçado. A partir dos 800 metros verifica-se uma descida acentuada que só estabiliza aos 840 metros. Aos 1030 metros conserva-se, em boas condições, uma calçada, junto a um curso de água (Ribeira da Fecha). Neste ponto Henrique Regalo observou indícios de uma quebrada, que terá ocorrido no contexto do pluvioso Inverno de 2000/2001.
Trata-se de um apontamento interessante para a análise dos problemas relacionados com a manutenção da via. Existem outros dois troços de calçada aos 1415 e aos 1442 metros. Foram documentados indícios de rodados de carro em 3 pontos (1030, 1430 e 1442 metros). Entre os dois conjuntos de marcos que assinalam as milhas XVIII e XIX a distância é de 1540 metros. Neste local há indícios de uma pedreira.»

Este agradável troço da via é, vejam só, dia e noite vigiado por uma enorme tartaruga, dona do Mundo. Que maravilha de penedo tão exótico.

Continua...

domingo, 22 de junho de 2008

31-05-2008 PR9 Terras de Bouro (2)

Trilho da Geira - 9 km / circular
Rede de Percursos Pedestres

“Na senda de Miguel Torga”

Deixamos agora a Geira e descemos em direcção a Chorense mas, inflecte-se logo à esquerda por um caminho que conduz a uma das partes mais belas do percurso, se assim podemos dizer, pois todo ele é deslumbrante!
Cruzamos uma ribeira com algum caudal e uma espectacular cascata, antes de nos embrenharmos pelo caminho daquele bucólico bosque, chegando à povoação.
Aqui podemos admirar as suas casas graníticas, os tradicionais espigueiros e algum gado autóctone típico da região.

Pelos caminhos agrícolas chega-se à Casa da Devesa, local com um antigo e belo núcleo habitacional, sobressaindo a antiga Capela, que nos pareceu convertida em palheiro, a fonte de água fresquinha, um ponto importante de reabastecimento, a casa granítica e aquele impressionante espigueiro.
Um pouco adiante inflecte-se para a esquerda, já na Estrada Municipal, passando uma Capela e por esse ascendente um pouco cansativo, à saida de Chãos, chegávamos outra vez à Geira Romana, que vem da Portela de Santa Cruz e num ápice se alcança a milha XV.
É aqui que “nasce” a Geira, li eu há anos num artigo.

Para compreendermos melhor esta parte da via, socorremo-nos mais uma vez do painel informativo, localizado no local:
« No termo do lugar de Barral, junto ao traçado da via, no sítio denominado Cantos da Geira, ou Bico da Geira, na freguesia de S. João da Balança, a uma altitude de 430 metros, foram assinalados pelo Padre Matos Ferreira dois miliários inteiros e um fragmento de outro. Um com inscrição muito apagada; outro dedicado ao imperador Caro (282-283). A referência à milha XV é legível. Martins Capela atribuíra o marco ao imperador Maximiano (285-305), sem contudo indicar qualquer leitura . Actualmente conservam-se os dois marcos, situados no lado esquerdo (norte) da via. É possível que no mesmo local ainda se conserve o fragmento do terceiro miliário.

Por outro lado, observam-se três crateras, as quais podem indicar que existiam mais três miliários, arrancados ao solo em data incerta, antes do reconhecimento efectuado pelo Padre Matos Ferreira. Amaro da Silva refere mais dois miliários recolhidos nas proximidades, na década de 80, levados para a sede da Câmara Municipal, um de Décio (250), e outro de Magnêncio (350-353).A partir de Cantos da Geira o percurso toma a direcção leste, que vai manter até à milha XVII, e está bem conservado numa extensão de cerca de 290 metros. Entre este último ponto e os 338 metros, o traçado encontra-se degradado. Efectivamente a partir dos 397 metros o trajecto da via foi alargado, devido à abertura de uma estrada de terra batida que se sobrepõe à via até ao 645 metros. De seguida retoma-se o percurso antigo até ao marco que assinala a milha seguinte. A 1814 metros regista-se o marco da milha XVI. Em diversos pontos foi possível fotografar rodados de carros. Regista-se, também uma pequena calçada, numa extensão de 30 metros (aos 1325 m.), bem como uma possível pedreira antiga aos 1663 metros.Neste trajecto a via tende a subir ligeira e suavemente da cota 430 para os 450.»

Após deixarmos para trás esta milha, a Geira alarga-se um pouquinho, permitindo caminhar lado a lado e conversando descontraidamente mas, logo toma um singular ascendente, surgindo aí vários troços de calçada, em partes ladeada por murilhos cobertos de aveludado musgo.

Na vegetação predominam pinheiros e eucaliptos, com partes da via mais uma vez encharcada por linhas de água que brotam das nascentes da sua encosta.
Chegávamos então à milha XVI, no lugar do Penedo dos Teixugos,na encosta do Monte das Caldeiras e do Fragão, onde se avista um miliário erigido ao Imperador Décio, no ano de 251 (sec.III ), notando-se bem a gravação no marco cilíndrico.

Descreve-se assim o registo desta milha:
«Na milha XVI, localizada no Penedo dos Teixugos ou Pala, na freguesia de S. João da Balança, a uma altitude de 450 metros, regista-se um marco epigrafado e outro anepígrafe, detectado no muro de uma bouça próxima do local onde se encontra actualmente. O marco inscrito foi descoberto por Amaro da Silva, em 1987, e foi levantado pela Câmara Municipal de Terras do Bouro.

Trata-se de um miliário dedicado a Décio (250). O Padre Matos Ferreira também refere outro marco, de Maximiano (285-305), entretanto desaparecido. O trajecto da Geira entre esta milha e a seguinte está em bom estado ao longo de 945 metros. A 60 metros identificam-se vestígios de rodados. A 460 metros a via cruza um pequeno curso de água (Ribeira da Devesa). Novos vestígios de rodados observam-se aos 685 metros. Entre os 945 metros e 1168 metros a via foi alterada por uma estrada de terra batida junto da capela de S. Sebastião da Geira (aos 1150 metros), para além de ser cortada pela EM 535-2, entre Chorense e Saím. Nos terrenos adjacentes ao templo, a norte, entre a capela e o monte, onde se ergue um cruzeiro, foram recolhidos fragmentos de cerâmica romana. Num corte, observámos indícios de um muro. Existiu aqui uma mutatio? Deste local em diante (1168 metros) até aos marcos da milha XXVI o caminho está em relativamente bom estado. Há uma calçada junto à ribeira da Igreja, situada a 1427 metros de Teixugos. No leito desta ribeira observa-se um miliário tombado, não tendo sido possível determinar se estava epigrafado. Observam-se marcas de rodados de carros aos 1480 e 1517 metros. Entre a milha XVI e o conjunto seguinte de marcos, mediram-se 1627 metros.»

Mais adiante e com vistas maravilhosas sobre os socalcos de Chorense, surge-nos de seguida uma paisagem deslumbrante que nos mereceu ser contemplada nas calmas, um espectacular bosque onde predominam carvalhos alvarinho, a árvore autóctone (natural da região) mais abundante, pinheiros-bravos, castanheiros e luxuriante vegetação rasteira, com predominância para variedades de fetos junto aos cursos de água. Foi deveras encantador e inesquecível, vindo à memória aquelas palavras de Miguel Torga, que nas suas caminhadas murmurava:

«… Oiço-vos por instinto, sussurrantes pinhais!
Não entendo as palavras, mas pressinto
Que são poemas que me recitais!»

Mais mil metros percorridos e eis-nos na frente da Capela de S. Sebastião, onde tínhamos iniciado este belo Percurso.
Chegados próximo da dita fonte, o sol a brilhar agora com raios mais fulminantes e as nossas gargantas sequiosas por fresca água, qual não foi o nosso espanto ao verificarmos que esta tinha pura e simplesmente “secado”!
Tanta água há umas horas atrás e agora nem uma gota! Coisas do diabo?!
…ou de alguém, quiçá, sabendo dos nossos carros ali estacionados (turistas que hoje vieram caminhar por estas bandas e no final terão sede) pode desviar o curso da nascente e esteja por ali perto escondido a zombar de nos verem incrédulos com esta situação?
Como Torga, também mais uma vez nos inundou a emoção de ter nascido nesta Pátria, repleta de sol e verdura entre escarpas de granito cobertas pelo céu azul, pois a Natureza é tão pura que não tem culpa destes actos, destas desgraças humanas!
Desolados, deixamos o lugar e dirigimo-nos para Sequeiros, onde nos aguardava um singelo mas reconfortante parque de merendas, com mesa e bancos de granito e uma fonte de água pura e cantante, onde os transeuntes paravam e bebiam com prazer. Aqui fizemos o nosso agradável piquenique e no fim do repasto, conversamos sobre o tema “Geira” que marcou esta agradável Caminhada.

A Geira é uma via histórica com mais de mil anos e com uma impressionante beleza paisagística, candidata a Património da Humanidade, pois é um autentico museu ao ar livre que, para além das maravilhas da Natureza, proporciona a quem por ela caminha, descobrir incríveis mistérios da arqueologia que nos deixaram os Bracaros e Romanos.

Continua...

31-05-2008 PR9 Terras de Bouro (3)

Trilho da Geira - 9 km / circular
Rede de Percursos Pedestres

“Na senda de Miguel Torga”

Um pouco de História

A ÉPOCA ROMANA
Nos limiares da era Cristã, Roma impõe definitivamente o seu domínio na Hispânia pela força de um exército poderoso e organizado.
Redistribuíram as terras conquistadas aos Bracaros e organizaram-nas administrativamente. O “latim” torna-se a língua dominante. Unifica-se o direito, a moeda, os padrões de peso e medidas e o próprio calendário.
Constroem-se cidades e vilas e a vida urbana renova hábitos de convivência social, com preferência pelos jogos de guerreiros e estâncias termais e multiplicam-se as necessidades de consumo. Mais tarde, grandes Imperadores como Caio Júlio César Octaviano Augusto, sobrinho e herdeiro de Júlio César, o máximo pontífice, transmitindo um diálogo de poder universal perante o Povo, cultivava-se intelectualmente em aulas de “retórica” (a arte de falar em público) transmitindo grandeza, sabedoria e progresso.
Mas, as primeiras vias daquele tempo não permitiam grandes deslocações entre Cidades e Vilas onde se edificavam anfiteatros e as “mansio”ou estâncias termais.
Com o rápido crescimento do Império nas antigas terras da Hispânia, houve necessidade de se criarem outras vias terrestres para a comunicação entre as Cidades e locais importantes daquele tempo.
Neste contexto foi então aberta uma VIA NOVA entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), sob o domínio dos Flávios, na segunda metade do sec. I d. C.
Esta via em toda a sua extensão entre Bracara e Asturica somava duzentas e trinta e cinco milhas, que perfaziam cerca de 318 km.
Sendo uma das estradas romanas mais bem preservadas, conservam-se ainda um grande numero de MILIÁRIOS que “balizavam” essas mesmas MILHAS
( mil passos – cerca de 1500m/milha ).

Construção e manutenção da VIA NOVA
O traçado da VIA NOVA foi cuidadosamente planeado por arquitectos, engenheiros e pelos gromatici, os topógrafos que, apesar dos utensílios rudimentares, já calculavam com exactidão as distâncias e os declives. A VIA NOVA foi construída de tal modo que, apesar de cruzar um espaço montanhoso com serras que chegam aos dois mil metros, só em alguns tramos, pouco extensos, alcança 900 metros. Os miliários de Tito e Domiciano documentam a abertura da via. O granito e o xisto, que formam o substrato rochoso ao longo de grande parte do traçado da via, foram utilizados de forma abundante, nos pavimentos lajeados, nos muros de suporte, nas obras de arte, nos miliários. Num contexto climático com alta pluviosidade, com pendores significativos, o traçado da VIA NOVA estava sujeito a processos erosivos intensos, justificando sucessivas obras de manutenção. Os miliários de Maximino e Máximo apresentam um texto muito expressivo, referindo o restauro de pontes e caminhos deteriorados pelo tempo.

A Pavimentação
Para se entender as características construtivas da VIA NOVA é necessário ter em conta o substrato rochoso da região, formado por diversos tipos de granito. Mantendo como objectivo primordial um traçado estável, sem grandes oscilações de cota, a engenharia romana adaptou o traçado de via às condições litológicas e geomorfológicas. Em muitos locais, nos tramos de meia vertente, o substrato rochoso era aplanado, por forma a garantir uma superfície dura, sobre a qual se dispunham uma ou várias camadas de preparação, de grande robustez. Sobre esta camada assentavam dois tipos de pavimento. Nas zonas planas, o piso era de terra batida, misturando arenas e alterites, garantindo deste modo plasticidade e consistência. Nos declives observam-se calçadas de lajes irregulares. Noutros pontos a própria rocha terá funcionado como pavimento, talvez porque o grau de dureza não facilitava a sua desmontagem. Ao longo dos séculos o lajeado das calçadas foi sempre reparado, pelo que não se pode considerar que seja, integralmente, da época romana. Em muitos dos vários tramos de calçada observáveis, no percurso da Geira, é fácil registar o desgaste variável das lajes, o diferente grau de polimento e a desigual profundidade dos sulcos dos carros. A VIA NOVA foi cuidada ao longo de séculos pelo que, ao lado de uma laje original, está uma outra colocada séculos depois.

O Traçado
O traçado da VIA NOVA tem sido objecto de estudo por inúmeros investigadores portugueses e espanhóis, desde o século XVIII. No seu conjunto estes estudos permitem esboçar o percurso deste caminho, nas suas grandes linhas.
Da cidade de Braga descia até ao rio Cávado, que transpunha no sítio da Barca de Ancêde. Depois, rumava a norte e trepava pelos últimos contrafortes da serra de Santa Isabel, ou da Abadia. Abandonava, assim, o vale do Cávado, prosseguindo pelas vertentes meridionais do vale do rio Homem até Covide, onde entrava na serra do Gerês. Atravessava a veiga de S. João de Campo e retomava o vale do rio Homem até à portela homónima. A partir daqui, descia pelo vale de Rio Caldo, onde se situava a mansio de Aquae Originis, continuando até ao vale do Lima que transpunha a jusante de Bande (mansio de Aquis Querquernnis). Daqui prosseguia para nordeste, ao longo da margem direita daquele rio, pela região da Baixa Limia até à Lagoa de Antelas, zona dominada pelo pequeno relevo onde ficava a mansio de Aquis Geminis e onde hoje se observam os restos do Castelo de Sandiás. Neste ponto rumava para norte até ao vale do rio Arnoya, onde se localiza a mansio Salientibus. Depois retomava a direcção nordeste, trepando até ao altiplano de Trives, entrando assim no seu percurso mais acidentado. Nesta zona situavam-se duas mansiones: Praesidio (Burgo); Nemetobriga (Póboa de Trives). Em seguida cruzava, sucessivamente, os rios Návea, Bibei, onde se conserva intacta uma ponte romana, e o Sil, em Cigarrosa (mansio Foro Gigurrorum). Daqui subia para nordeste, ao longo do vale do rio Sil e do seu afluente Entoma, atingindo, assim, a rica zona mineira de Bierzo (Bergidum Flavium). Daí cruzava os Montes de León, alcançando, deste modo, Asturica Augusta. Num percurso de 215 milhas, a VIA NOVA atravessava diferentes regiões naturais e diversas bacias hidrográficas, bem como distintos populi entre os quais referimos os Bracari, os Querquernni, os Limici, os Tamacani e os Gigurri

uma ara romana

As Obras de Arte
As pontes, talvez as maiores obras da engenharia e da técnica de construção viária romana, revestem-se de grande monumentalidade, grandiosidade, solidez e robustez. Ao longo do seu trajecto de Bracara a Asturica a VIA NOVA regista um conjunto de 39 pontes antigas. Porém, destas só a magnífica ponte sobre o rio Bibei, a ponte de S. Miguel, da Macieira, e do Forno, são integralmente romanas.
Nas restantes a edificação inicial acabou por não sobreviver às sucessivas reconstruções. No percurso entre Bracara e a Portela do Homem foram erguidas pelo menos três pontes, que se localizam entre as milhas XXXII e XXXIV. Tal como foi projectada a via, e para além do rio Cávado, apenas na zona da Mata de Albergaria, em plena Serra do Gerês, seria necessário edificar obras de arte. Na Serra, mesmo no Verão, apesar do caudal ser diminuto, o profundo talvegue dos cursos de água, juncado de grandes blocos, não facilitava a passagem de carros. No Inverno, mesmo a travessia a cavalo, ou a pé, eram absolutamente inviáveis, devido à força e violência da corrente. As pontes sobre as ribeiras de Maceira e do Forno eram pequenas, assentes num só arco. A ponte de S. Miguel sobre o rio Homem já possuía outra envergadura, com dois arcos. As invasões dos diversos povos, ao longo dos séculos, têm levado à destruição intencional de pontes. A de S. Miguel, em Terras do Bouro, foi destruída pelos locais no contexto das Guerras da Restauração em 1642. A ponte romana assentava o seu tabuleiro – normalmente horizontal – em grandes arcos uniformes de volta perfeita – constituídos por imponentes aduelas – que assentavam em espessos pegões providos de talhamares na direcção oposta à corrente do curso fluvial. Efectivamente o uso da técnica de arcos pelos engenheiros facilitou a construção de pontes, aquedutos e outros edifícios na época romana.

As Pedreiras
Ao percorrer o traçado da VIA NOVA é ainda hoje possível observar um conjunto de afloramentos talhados, ou com negativos esculpidos na rocha, de onde foram extraídos os materiais para a construção da via, bem como os miliários. O material utilizado varia com os diversos recursos da região atravessada pela estrada, predominando, nesta área, o granito. O material rochoso para as pedras e miliários das calçadas da VIA NOVA foi obtido nas proximidades, em pequenas pedreiras, situadas junto ao caminho, como se pode observar, por exemplo, nas milhas XIV, XVI, XXXI e XXXIII, ou nas imediações da Ponte de S. Miguel. Para o enchimento interior dos robustos paramentos das pontes e nos níveis de preparação dos pavimentos, foram largamente utilizados os calhaus e seixos transportados pelo rio Homem e seus afluentes. Embora fosse, preferencialmente, utilizada a matéria prima local, os construtores romanos recorriam, se necessário, a materiais estranhos à zona. Podia, mesmo, acontecer que os materiais destinados a determinados elementos das vias fossem transportados de longe.

Sistema de Drenagem
Ao longo do seu trajecto, de Bracara a Asturica, a VIA NOVA percorre uma região acidentada com numerosos cursos de água, dos quais muitos possuem um caudal permanente. Para que as estradas não ficassem completamente inundadas, o piso central era ligeiramente convexo, fazendo com que as águas se deslocassem para as valas laterais, sendo, posteriormente, escoadas. Todavia, este tipo de solução nem sempre era possível, adaptando-se melhor aos planaltos, onde as vias em agger se destacam. Quando as estradas se encostavam às vertentes, com o mesmo objectivo, a fim de evitar que as águas invadissem o caminho, os romanos construíram, sob o pavimento, drenos de forma circular, ou de secção rectangular. Na VIA NOVA, ao longo dos séculos, este sistema de drenagem foi, sucessivamente, reparado e reconstruído, de tal modo que é impossível afirmar que são romanas as estruturas deste tipo, observáveis ao longo do seu trajecto. No entanto, a técnica e modo como funcionam não são muito diferentes. Devido ao abandono dos campos, grande parte dos drenos encontram-se, hoje, assoreados ou bloqueados, de modo que a recuperação da VIA NOVA, como caminho pedestre, obriga a reactivar o antigo sistema dos caminhos de água.

A Manutenção
Um dos principais desafios, de todos os poderes, é o da manutenção das obras públicas de interesse geral, como são as estradas. A VIA NOVA entre Bracara e Asturica, eixo de primeira importância sobre o ponto de vista administrativo, foi construída e conservada pelas finanças imperiais, entidade também responsável pelo policiamento e pela eficácia do Cursus Publicus, a rede de albergues, estações de muda, postos de fiscalização e portagens. Tal facto explica a referência nos miliários ao governador C. Calpetanus Rantius Quirinalis Valerius Festus, no ano 80 d.C., a propósito da construção da VIA NOVA. A preocupação em manter em bom estado todos os caminhos ficou gravada nos marcos dos imperadores Máximo e Maximiano (235-238), cujo texto é, por si mesmo elucidativo: O imperador César Gaio Júlio Vero Maximino, Pio, Feliz, Augusto, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, pontífice máximo, no seu quinto poder tribunício, sete vezes imperador, propertor, cônsul, procônsul e Gaio Júlio o Máximo, mui nobre César, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, Príncipe da Juventude, filho do nosso senhor imperador Gaio Júlio Vero Maximino, Pio Feliz, Augusto, restauraram as estradas e as pontes arruinadas pelo tempo, sob o controlo de Quinto Décio Valeriano, legado de Augusto, propretor. Desde Bracara Augusta ...”

A Paisagem
Numa pequena extensão a VIA NOVA, entre Amares e Lobios atravessa paisagens muito variadas, desde a zona urbana de Braga, com uma elevada densidade construtiva até à Mata de Albergaria, considerada uma reserva integral do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O contexto paisagístico da VIA NOVA é, pois, excepcional, permitindo aos viajantes apreciar panorâmicas diversificadas, aprender a gostar da Natureza e conhecer a estrutura agrária da região.

O Cursus Publicus

A rede viária romana sustentava o funcionamento do Cursus Publicus, essencial ao bom governo do vasto império romano. Os três pilares do Cursus Publicus eram as mansiones, as mutationes e os miliários. As mansiones eram locais de descanso, onde os viandantes podiam comer, dormir, tomar banho e abastecer-se para prosseguir a viagem. As mutationes eram estações de muda, onde se podia trocar de cavalo. Situados à beira da via, estes equipamentos asseguravam o correio, a velocidade dos mensageiros, o trânsito de militares, de funcionários e de todos os caminhantes que, pelos mais variados motivos, percorriam as estradas. Os miliários balizavam a via, assinalando as distâncias aos caput viarum, ou seja aos nós rodoviários. No caso do tramo da VIA NOVA entre Baños de Rio Caldo e Amares, os miliários marcavam a distância a Bracara Augusta.

A VIA NOVA – História
No conjunto da rede viária do extenso império romano, o caminho entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga – Província de Léon), por Bergidum Flavium (Ponferrada), constitui um testemunho excepcional de uma época em que a Europa era um espaço comum. A construção da VIA NOVA, na segunda metade do século I d.C. reforçou a malha viária, permitindo o reordenamento territorial, a intensa actividade mineira, com destaque especial para o ouro, contribuindo a longo prazo para a emergência de uma entidade histórica que perdurou ao longo dos milénios: a Callaecia.

Viajantes
Os testemunhos arqueológicos e literários do mundo romano sublinham que as deslocações eram normais e bastante vulgares na sociedade romana. Diversas razões, nesses tempos, tal como hoje, obrigavam a viajar. Entre os muitos motivos destacamos os de ordem profissional, religiosa, comércio, saúde, assim como os decorrentes de interesses de lazer, ou de cultura.
De entre os viajantes que terão percorrido a VIA NOVA, através dos tempos, referimos: Lucius Didius Marinus; Marcus Silonius Silanus; Tertia Flacilla; Quinto Ennius Asiaticus; Lucio Pompeio Reburro; Calaicus; Morinus; Quinto Licínio Vegeto; Popillius Hirsutus; Atilius Astur; Aelius Sporus; Iulius Flavinus; Vallius Maximus; Marcus Aemilius Lepidinus e Lucius Cornelius Placidus; Hidácio de Chaves.
Destacamos a inscrição de Vallius Maximus, considerando a especificidade das divindades tutelares a que é dedicado o altar.
Vallius Maximus
[LAR] IBUS/ [VIA] LIBUS/ [V] ALLIUS/ [M]AXIMUS/ EX VOTO
“Válio Máximo dedicou este altar aos Lares Viales”.
Os Lares, divindades protectoras da família, dos caminhos e dos lugares, por vezes mesmo com tutela sobre uma colectividade, aparecem aqui sublinhados sob a forma de Viales. Desta forma, Válio Máximo, ao dedicar este altar em Santa Maria de Trives Vello, Ourense, terá percorrido uma parte do traçado da VIA NOVA.

moeda romana


Consolidação da Romanização e a abertura da VIA NOVA
A política de romanização do Noroeste é prosseguida sob os restantes imperadores da dinastia júlio-cláudia: Tibério (14-37 d.C.), Cláudio (37-41) e Nero (54-68). Com o assassinato deste último termina a primeira dinastia do Império Romano. No quadro da crise aberta pelo fim da referida dinastia, destaca-se a intervenção do governador da Hispania Citerior, Galba, que é aclamado imperador. Porém, Galba apenas reinará durante seis meses, pois também é morto. Todavia, a sua ascensão ao trono, embora efémera, assinala a importância crescente da Hispania no quadro do Império Romano. A fechar um conturbado período de pouco mais de um ano em que se sucedem três efémeros imperadores, emergiu uma nova dinastia, a dos Flávios, fundada por um general de origem humilde, Vespasiano. Os textos de autores gregos e latinos, bem como os dados arqueológicos, demonstram que, sob o governo dos Flávios, a Hispania e o Noroeste Peninsular se inserem, definitivamente, no quadro da civilização romana. O imperador Vespasiano (69-74) concede o Ius Latius, que permite a determinados indígenas ascenderem à cidadania romana. Assiste-se à emergência de novos municípios (por exemplo, Aquae Flaviae e Iria Flavia), enquanto que outros centros urbanos se renovam e expandem. Verifica-se uma intensificação da actividade mineira e um crescimento global da economia.

Espero com este meu trabalho te entusiasmar para que também venhas caminhar por troços da Geira ou, quem sabe, percorrer toda a sua extensão disponivel.

(compilação de textos: C.M.Terras de Bouro, PNPG, A Geira, Imp.Romano...)

Já agora, tome nota:
O Parque Nacional Peneda Gerês é candidato às 7 Maravilhas da Natureza!
Entre neste site http://www.new7wonders.com/classic/en/index/
e vote nas 7 opções e claro está, em primeiro lugar:
Europe / Peneda-Gerês National Park (Portugal)

A "Caramulinha" agradece!

Boas Caminhadas

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Quase nada



O amor

é uma ave a tremer

nas mãos de uma criança.

Serve-se de palavras

por ignorar

que as manhãs mais limpas

não têm voz.

Eugénio de Andrade


segunda-feira, 16 de junho de 2008

17-05-2008 PR2 Tondela (2)

Rota do Linho – 9km / circular

O Linho

Algumas etapas do cultivo
e transformação do Linho




Agora, leiam este delicioso poema da autoria de:
José Almeida da Silva

O linho e a luz

Traz a ternura da memória
A brancura do linho. Tecida
De luz, a memória traz a vida
Correndo pelo bordado dos tempos.

É assim que vivem as estrelas – um Natal
Permanente a derramar-se no Universo!

Amigos, aproveitem bem os vossos tempos livres, sempre que possível em contacto com a Natureza!

Beijinhos da “Caramulinha”

17-05-2008 PR2 Tondela (1)

Rota do Linho – 9km / circular

Amiguinhos

Para dar continuidade à nossa aposta e vontade de conhecer melhor a região do Caramulo, viemos hoje caminhar pela Rota do Linho, um percurso cultural e paisagístico, geograficamente inserido nos lugares da bela Freguesia de Castelões.
Dirigimo-nos mais uma vez ao alto das Cruzes, no Santuário Coração de Maria, hoje coberto por um manto de nevoeiro que esconde o Vale de Besteiros.

Descendo por um caminho da floresta composta de pinheiros bravos, eucaliptos, onde intercaladamente surgem pequenos núcleos de carvalhos e sobreiros, aqui e ali alguns medronheiros, surge-nos, então, uma represa num braço da Ribeira de Múceres, límpida e selvagem, antes de entrarmos nesta antiga povoação.

Já na Aldeia, visitamos a Capela da Senhora do Livramento, o casario granítico com alpendres, alguns em avançado estado de degradação, fontes e uma eira com seu núcleo de espigueiros.
Um ponto de referência obrigatório a visitar, seria o edifício da antiga escola primaria, que agora alberga o Centro de Laboração do Linho, o tema que dá o nome a este Trilho. Com muita pena nossa encontrava-se fechado.

De seguida, toma-se o caminho para a mini-hidrica, na bacia da Ribeira de Múceres, onde se avistam moinhos, quase todos em ruína, quedas de água e açudes, ao longo das margens envoltas por uma frondosa vegetação, repleta de centenários carvalhos negral e castanheiros, onde o verde predomina e se respira o perfume da Primavera.

O leito da Ribeira, a floresta e os campos, as cascatas, aquele aveludado musgo sobre as pedras que deliciam o nosso olhar ao longo de lugares como Conguedo e Costa da Várzea, transportam os Caminheiros para um espaço natural onde se vai descobrindo tanta beleza, sempre com gosto e espírito de aventura.

Ladeando os campos, surgem ramadas de vinha, cerejeiras com o fruto já maduro e os laranjais. Vêm-se hortas repletas de variadas couves, feijão, e nalguns destaca-se a tradicional plantação do linho que nesta região ainda se cultiva.
Prossegue-se já quase no final da rota por um caminho do pinheiral que, subindo chegamos à estrada que conduz ao alto do Santuário Coração de Maria.
Descansamos de alguma exaustão e demos início a um agradável piquenique.

O grupinho dividiu as tarefas e o assador do Parque começou logo a arder o carvão.
Daí a nada já degustávamos saborosas costeletas e salsichas grelhadas, acompanhadas de saboroso “fresquinho”. Depois foi a salada de morangos e o bolo caseiro. Úi! Tanta coisa boa e saborosa! É assim desta maneira “à Portuguesa” que se recuperam as energias perdidas durante a Caminhada. Como sabe tão bem este convívio.
Depois do inevitável relaxe neste local perfeito e encantador, regressamos pelo Caramulinho, que alguns foram conhecer pela primeira vez. A paisagem aqui é deveras fascinante, com a Serra do Caramulo a perder-se de vista para outras, como a da Estrela, lá ao longe.
De regresso à estrada e agora já em Campia, mais uma vez nos deslumbramos na Praia Fluvial do Porto Várzea.
Depois, fomos ao “santuário” dos loendros - que já vos descrevi noutro post - todos em flor de cor roxa/púrpura, tão suave e cheia de encanto e beleza.

Obrigada! Lindas Terras! Por este dia tão doce e belo, cheio de Companheirismo, Amizade e Amor!

Continua...

A "Caramulinha"

sexta-feira, 13 de junho de 2008

13 de Junho 1888

Data do Nascimento de Fernando Pessoa

É boa! Se fossem malmequeres!



É boa! Se fossem malmequeres!
E é uma papoula
Sózinha, com esse ar de "queres ?"
Veludo da Natureza tola.

Coitada!
Por ela
Saí da marcha pela estrada.
Não a ponho na lapela.

Oscila ao leve vento, muito
Encarnada a arroxear.
Deixei no chão o meu intuito.
Caminharei sem regressar.

Fernando António Nogueira Pessoa

Homenagem da "Caramulinha"

segunda-feira, 9 de junho de 2008

04-05-2008 PR1 Felgueiras (2)

A Rota do Românico

A Rota do Românico é o mais importante instrumento de dinamização cultural, social e económica para a região do Vale do Sousa, no Norte de Portugal.
Há tempos li no JN que o custo deste projecto é de 6,4 milhões de euros para restauro e conservação de monumentos.
48 mil euros na dinamização turística. 420 mil na formação de pessoal. 605 mil na criação de programas de informação e interpretação da Rota. 95 mil serão para um estudo de definição do modelo de gestão e viabilidade económica.
Sabe-se que este projecto foi lançado há poucos anos e abrange 91 monumentos eleitos, construídos entre os sec.X e XIII.
Até à data parece terem já sido gastos 7,6 milhões.
Confesso não saber analisar se o valor destas verbas é ou não justo e suficiente para a implementação deste ousado projecto e qual o impacto positivo que actualmente possa já estar a causar nas Autarquias de Penafiel, Paredes, Lousada, Paços de Ferreira, Felgueiras e Castelo de Paiva.

No entanto, podemos já verificar que ao longo de muitas estradas de acesso a esta histórica região, riquíssima em património construído, estão sendo sinalizadas com placas de indicação dos monumentos e percursos adjacentes.
Já existem sites na Net sobre a Rota do Românico, também divulgada pelas Autarquias locais, onde constam para além de muitas informações e divulgação de Eventos, uma monografia com a história dos seus admiráveis monumentos.

A “Caramulinha” numa compilação de textos, vai descrever sintetizadamente três desses belos monumentos que já visitou:

Mosteiro de Pombeiro
Pombeiro é uma freguesia do concelho de Felgueiras, Distrito do Porto, e situa-se nos confins da província (Douro Litoral), entre Guimarães e Felgueiras. Fica num vale muito perto do rio Vizela de onde lhe vem o nome de Pombeiro de Riba Vizela.

O mosteiro de Sª. Mª de Pombeiro, românico setecentista, foi fundado nos meados do sec. XI por Gomes Eanes Echigues, mas ao que parece, já tinha existido um mosteiro beneditino no lugar do Sobrado. Deste mosteiro extinto, diz Frei António Meireles: "É forçoso calar-me sobre o mosteiro do Sobrado; o tempo que arvora seus troféus sobre montões de ruínas não perdoou aos poucos documentos deste mosteiro, examinados há quase dois séculos pelos nossos antiquários, que juntaram os materiais com que o reverendíssimo Frei Leão organizou a Beneditina Lusitana; sou porém, testemunha ocular dos vestígios daquele primeiro mosteiro, e ainda hoje arranca o ferro do arado muitos tijolos nos campos que lhe serviram de assento; o lugar daquela primeira fundação é mais elevado, mais plano e lavado dos ventos; foi destruído por algum bárbaro vencedor ..."

A fundação do mosteiro de Pombeiro, foi destinada talvez a substituir o antigo do Sobrado (decerto pequeno e insignificante) e a receber a sua comunidade.
O mosteiro de Pombeiro foi extinto em 1834, com os mais do país, pelo liberalismo, e os seus bens vendidos como bens nacionais. O mosteiro tem um espaçoso claustro ao centro, guarnecido de altas e grossas colunas coríntias, que suportam a vistosa galeria que dá maior majestade ao edifício. As paredes do claustro eram forradas por um dos mais belos conjuntos de azulejos existentes em Portugal, onde se retratavam cenas bíblicas e cenas da vida de S.Bento.
Actualmente, já muito poucos azulejos restam pois foram roubados e destruídos.


Duas elevadas torres, de boa cantaria, situam-se nos dois ângulos da fachada da igreja. Existiu diante da porta principal uma galilé que tinha esculpidas na pedra os escudos das armas de todas as famílias nobres de Portugal e assim foi essa galilé uma espécie de incontestável tombo da antiga nobreza de Portugal.
Do convento restam hoje duas pequenas partes, uma delas residência do pároco, a outra residência dos donos. As obras empreendidas pelos abades suprimiram todo o primitivo estilo da igreja (séc. XVII e XVIII), que se julga ter sido obra de arquitectura românica, pela data da fundação do mosteiro e pelo traço de uma capelinha deixada intacta pelos reformadores.

A frontaria da igreja, simples e elegante, ostenta ao meio uma rosácea, bela e grandiosa, que liga as duas altas torres quadrangulares, e forma uma abóbada de arco abatido, ao fundo da qual se abre a porta principal.
Texto (resumo) de Armando Pinto (Semanário de Felgueiras)

Mosteiro de Paço de Sousa
O Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa situa-se nesta recente Vila, do Concelho de Penafiel.
Dizem escrituras antigas que foi fundado no sec.X por “Trutesindo Galindes” e serviu de refúgio ao Abade deão “Radulfo” durante as invasões históricas do Imperador “Almançor Benamet” de Andulizia, que em 995 se sediou no Castelo de Aguiar, na margem do Rio Sousa.


Sofrendo ao longo dos tempos vários estragos, foi reconstruído no sec.XIII e resistiu até aos tempos de hoje, considerado um importante monumento Nacional.
De estilo Românico, a sua fachada imponente é encantadora, onde sobressai aquela bela rosácea.

Parece ter sofrido poucas alterações a sua traça original mas, já nos nossos tempos, no ano de 1927 nele deflagrou um terrível incêndio que o destruiu parcialmente, nomeadamente os artísticos tectos de madeira em talha minuciosamente trabalhada, que desapareceram para sempre.

Esta importante relíquia de arquitectura Românica em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas pelo governo do Liberalismo, foi vendida em hasta pública, mas a Igreja ainda hoje está aberta a todos os cidadãos, como lugar espiritual da Palavra de Deus.

No exterior pode admirar-se a bela e elegante torre com seu relógio sempre certinho.
Em tempos aprendia-se na instrução primária que neste mosteiro foi sepultado Egaz Moniz, o “aio ou educador” do nosso 1º Rei e fundador da Nação, D. Afonso Henriques.
É um monumento geograficamente inserido na Rota do Românico que merece ser visitado.

Mosteiro de Cête
Igreja de S. Pedro do Mosteiro de Cête
O Mosteiro de Cête é monumento nacional e dele resta hoje, após séculos de degradação, a Igreja, a Sala do Capítulo e o Claustro. Tudo o resto se perdeu.

A fundação do Mosteiro remonta aos séculos X e XI. Foi da Ordem de S. Bento e a partir dos meados do séc. XVI da Ordem de Sto. Agostinho. Em 1758 encontravam-se ainda dois religiosos a assegurar a vida espiritual da Freguesia.É uma obra românica iniciada nos finais do século IX, e concluída nos inícios do século seguinte. É a zona proto-românica que consta das paredes laterais que vão da linha transversa posterior da torre à ombreira da porta ogival, incluindo as primeiras fiadas acima das frestas.

No século XIII, sofre uma profunda transformação, operada no consulado do Abade D. Estevão I, que se encontra sepultado na capela-mor. Desta época são a torre ameada, o claustro actual, o gigante da fachada e outros pormenores. A fisionomia semi-guerreira da igreja conventual, com a sua torre lateral ameada, os seus muros espessos e o gigante que lhe flanqueia o portal, confere-lhe uma função religiosa e defensiva.

No interior merece destaque a profundidade e altura da nave, e a segurança e robustez da abóbada de granito da capela-mor. O claustro é de dois pisos e apresenta quatro galerias com arcadas redondas assentes em colunelos facetados.

O Mosteiro de Cête é um dos primeiros templos erigidos ao Cristianismo em Portugal e talvez o único fundado naquelas eras remotas que ainda hoje se encontra em estado de nele se exercerem as funções de culto religioso. Situa-se na margem norte do Rio Sousa, embora apresente uma das mais ricas histórias de entre as fundações românicas portuguesas, que começa por uma pretensa doação aos Beneditinos de dois mouros convertidos à fé Cristã, atestada por documento anterior à própria fundação dos Cluniacenses da era Romana.

Sempre que poderem visitem estas “Maravilhas de Portugal”, testemunhos que os nossos antepassados deixaram, lendo em cada um o “mistério” que a sua construção nos transmite, quase sempre sinónimo de grandeza e épocas prósperas de antigas gerações, para hoje usufruirmos, admirarmos e acima de tudo preservarmos a fim de que possam chegar às gerações futuras em óptimo estado de conservação.
A “Caramulinha” agradece!

Até à próxima e Beijinhos