quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O elefante e o burro

No tempo em que ainda falavam
Os animais como a gente,
É tradição que tiveram
Conferência em caso urgente.

O burro, que não sei como
Se introduziu no conselho,
Quis, fingindo-se estadista,
Também meter o bedelho.

E, num tom que diferia
Bem pouco do que hoje é zurro,
Foi revolvendo a questão:
Discreteou como um burro.

Depois de lhe ter ouvido
Alguns conceitos de arromba,
O carrancudo elefante
Lhe disse, torcendo a tromba:

- Esse tempo que tens gasto
Inútilmente em clamar,
Insensato, não podias
Aproveitá-lo em pastar?

Vens afetar eloquência,
Animal servil e abjeto!
Um tolo nunca é mais tolo
Que quando quer ser discreto.

M. M. de B. du Bocage