terça-feira, 30 de dezembro de 2008

09-11-2008 Mondim de Basto (1)

Comemoração do S. Martinho

Amiguinhos

Com o propósito de reviver tradições e proporcionar momentos de convívio entre visitantes/turistas e a comunidade local, a Junta de Freguesia de Mondim de Basto realizou no passado dia 09 de Novembro o tradicional Magusto.

Mais de uma centena de Caminheiros participaram neste maravilhoso programa, que se iniciou cerca das 10.00H, com alguns minutos de explicações para um conhecimento básico sobre os cogumelos.

Uma Engenheira da Associação Aguiarfloresta de Vila Pouca de Aguiar elucidou-nos sobre alguns fungos (que todos gostamos mais de chamar cogumelos) a sua preservação e normas educativas ambientais que devemos ter, não colhendo à sorte todos os cogumelos que nos surjam pela frente, pois para além de alguns serem venenosos e que não devem ser colhidos, os que são comestíveis necessitam que se olhe mais pela sua sustentabilidade, se quisermos que no futuro estas espécies não desapareçam.

O tema “cogumelo” esteve presente ao longo da já tradicional caminhada, com cerca de 6km, por caminhos rurais, de montanha e calçadas medievais, passando alguns lugares populacionais de Mondim, revivendo lugares bucólicos junto ao Rio Cabril, quando o atravessamos nas poldras ou pela Ponte Romana.

Caminhando sempre com calma e serenidade, conversávamos com as pessoas sobre os lugares que fomos descobrindo, fotografando momentos de rara beleza que faziam brilhar os nossos olhos. Bosques encantadores, pinheirais e soutos, vinhas com folhagem tricolor, campos cultivados e outros ceifados, aos pés do Monte Farinha, vigiados pela Senhora da Graça.
Tudo nos contagia de espírito à “Mondinense”!

No livro “SER MONDINENSE”, Luís Jales de Oliveira escreve:
Um cibo de terra roubado,
A um mar de pinheiros sem fim;
Um Monte e um Rio ao lado,
E lá no meio: - Mondim!!!

A Marcha ou “Hino” de Mondim lembra aos visitantes que “aqui não há distâncias, pobre e rico dão as mãos”. Dá gosto caminhar assim, sem pressa de chegar ao fim, inseridos num Grupo apaixonado e alegre, de vários escalões etários e bem orientado pelo Presidente Fernando Gomes. Pode considerar-se Pedestrianismo “puro” no apogeu da sua glória.

Continua…

09-11-2008 Mondim de Basto (2)

Comemoração do S. Martinho

No final da Caminhada teve lugar o almoço, onde se incluía mais uma vez o já nosso conhecido tradicional prato de “milharos”, quentinho para aquecer os corações e com muita variedade de carnes a rechear aquelas papas de milho. Que saboroso este prato, outrora comido só pelos pobres, que não tinham arroz nem massas para variar a sua dieta. Fêveras, morcelas e entrecosto grelhados iam saltando dos assadores para o pão dos viandantes a aguardar na fila. Frutas, sumos e vinhos da região completavam a “ementa”. Não comam muito - dizia alguém - senão, depois logo ninguém consegue saltar ás cordas ou caminhar no jogo das tábuas.

Da parte da tarde decorreram então os jogos tradicionais: saltar à corda, das poldras, (uma novidade este jogo que ainda não tínhamos presenciado e também participamos com alguma dificuldade, pois o guia leva os olhos vendados e é conduzido pelo 2º elemento, onde todo o grupo tem de chegar ao fim sem pousar os pés no chão).

Também a já conhecida e sincronizada corrida das tábuas, bem como a prova à resistência no jogo da corda dos quatro cantos, sempre espectaculares, onde participam novos e velhos, acompanhados de música com desgarradas para animar a malta.

Não interessa quem ganha mas, que todos se divirtam neste dia de S. Martinho, o Santo que, enquanto jovem soldado também gostava da … paródia.

Pelas 17.30H a fogueira começou a arder e toda a gente foi se juntando ao redor. As castanhas já despejadas entre a caruma, começaram a ficar com casca negra e douradinhas. Toca a agachar e a tirá-las da apagada fogueira. Quentes e boas, acompanhadas de pinga tinta. Depois apareceu um néctar e raro “tintol” especial da terra, semelhante ao vinho da Madeira. Que maravilha!

Da fogueira vem a “matéria prima”, esse pó que os dedos da mão artista espontaneamente pinta os rostos farruscos dos mais audazes.
Aquele grupo do costume mais uma vez cantou a Marcha de Mondim, desta vez um pouco mais desafinados (porque seria? ih ih ih) mas os versos daquele poema estremecem-nos!

Num ápice, a luz Solar desapareceu e os turistas viandantes foram-se despedindo dos Mondinenses que ficaram mais algumas horas em diversão no bar do Parque de Campismo, gerido pela FCMP e que nestes Eventos colabora com a Freguesia. Bem hajam!

Despedimo-nos de todos com Amizade, agradecendo ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia, Fernando Gomes, mais um dia encantador que passamos em convívio amigo e fraterno, e enaltecemos aquele carinho que vocês sempre partilham com que vos visita.

A “Caramulinha” Agradece!

Continua...

09-11-2008 Mondim de Basto (3)

Comemoração do S. Martinho

Marcha de Mondim

I
Vamos cantar Mondim, a nossa terra amada,
Risonha fada junto ao Tâmega a sonhar…
É pequenina, mas bonita e engraçada:
Nela se encerra todo o amor do nosso lar!
Por toda a parte a natureza, águas correntes,
As avezinhas e as crianças inocentes…
Te cantam com graça infinda:
És linda! Tão linda!

Coro:

Mondim, Mondim,
Ó meu torrão natal,
Não tens rival,
Não há igual a ti!
Colina em flor!
Jardim que nos sorri!
Mondim, és o meu tesoiro,
O berço de oiro
Onde eu nasci!

II

São as casinhas como as contas do meu terço,
Todas juntinhas, pois aqui somos irmãos:
Nas alegrias e tristezas deste berço
Não há distâncias: pobre e rico dão-se as mãos.
E lá nos campos, inda o sol não dá na serra,
Lá anda o povo a sua terra a trabalhar…
Badá-la o sino da Igreja… Silêncio! Rezar!

Coro...

III

Tens a fragrância dos jardins do nosso Minho!
Tens a saudade de um adeus a Trás-os-Montes!
Ligas-te ao Douro por pinhais e rosmaninho!
Em ti desfrutam-se os mais belos horizontes!
Ergue-se ao alto Nossa Senhora da Graça
Sobre um altar, o singular Monte Farinha,
Que, altivo, mostra a quem passa
A nossa Madrinha!

Continua...

09-11-2008 Mondim de Basto (4)

Comemoração do S. Martinho

A “Lenda” de S. Martinho

Diz a lenda que Martinho, nascido na Hungria, no ano 316, tal como seu pai, foi um soldado.
O seu nome foi-lhe dado em homenagem a Marte, o Deus da Guerra e protector dos soldados. Aos 15 anos vai para Pavia (Itália). Anos mais tarde, em França, abraçou a vida sacerdotal, reconhecido como grande pregador, vindo a ser eleito Bispo de Tours.
Certo dia de Novembro, muito frio e chuvoso, estando em França ao serviço do Imperador, seguia Martinho no seu cavalo a caminho da cidade de Amiens quando, repentinamente, começou uma terrível tempestade.
Cavalgando, surge-lhe a certa altura na berma da estrada um pobre homem quase despido, pedindo esmola.Como não trazia outras roupas, o soldado Martinho sem hesitar, pegou na espada e cortou a sua capa ao meio, dando uma das metades ao pobre para que este se protegesse do frio. Nesse mesmo momento a chuva parou e o Sol voltou a brilhar, ficando milagrosamente um dia como de Verão.Jesus, tempos depois, falou-lhe ao coração e ele rendeu-se a discípulo da Religião Cristã.
Faleceu a 8 de Novembro de 397 em Tours.
Desde então, sempre se esperou que todos os anos, por Novembro, surja o Verão de S. Martinho. E não é menos verdade que S. Martinho raramente nos decepciona.
Em sua homenagem, comemoramos o dia 11 Novembro com as primeiras castanhas do ano, acompanhadas de vinho novo.
É o nosso tradicional Magusto, que se festeja praticamente em todo Portugal.

Provérbios de S. Martinho

*A cada bacorinho vem o seu S. Martinho.
*Em dia de S. Martinho atesta e abatoca o teu vinho.
*Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho.
*No dia de S. Martinho, fura o teu pipinho.
*No dia de S. Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho.
*No dia de S. Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho.
*No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho.
*Pelo S. Martinho prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não te faz dano.
*São Martinho, bispo; São Martinho, papa; S. Martinho rapa.
*Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho.
*Se o Inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho.
*Veräo de S. Martinho säo três dias e mais um bocadinho.
*Castanhas boas e vinho fazem as delícias do S. Martinho.
*A castanha tem uma manha: vai com quem a apanha.
*Castanha que está no caminho é do vizinho.
*Castanha quente só com aguardente, comida com água fria causa «azedia»
*Castanhas do Natal sabem bem e partem-se mal.
*Dá-me castanhas, dar-te-ei banhas.
*Em minguante de Janeiro, corta o teu castanheiro.
*Em Setembro, antes de chover, o souto o arado quer ver.
*Mais vale castanheiro, que saco de dinheiro.
*O Céu é de quem o ganha e a castanha de quem a apanha.
*Oliveira do meu avô, castanheiro do meu pai e vinha minha.
*Os ouriços no São João são do tamanho de um botão.
*Pinheiro cortado em Janeiro, vale por castanheiro.
*Planta o souto, quando cai a folha ao outro.
*Por souto não irás atrás do outro.
*Quando o lobo come outro, fome há no souto.
*Quem castanhas come, madeira consome.
*Quem não sabe manhas, não come castanhas.
*Queres castanhas? Larga o burro tamanhas.
*Raiz de castanheiro, dá «bô» braseiro.

Continua...

09-11-2008 Mondim de Basto (5)

Comemoração do S. Martinho

A castanha

«O fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias (…) só em Novembro as agita a inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa carne fofa, a maravilha singular de que falo.»
Palavras de Miguel Torga

Os castanheiros são nativos das regiões de temperatura amena do hemisfério norte do globo terrestre. Duram até aos 500 anos, e apenas dão fruto quando atingem os 40 anos.
Estas árvores dão-se bem em terrenos ácidos, como os formados por granito e xisto, e não se desenvolvem bem em solo alcalino. As castanhas estão contidas num ouriço espinhoso, com cerca de 5 a 11 cm de diâmetro, que contém entre uma a sete castanhas.
As castanhas têm uma relevância inquestionável na gastronomia Europeia, particularmente, nos países do sul, (onde se inclui Portugal, claro); na Ásia, e também na zona este da América do Norte. A castanha foi, provavelmente, um dos primeiros alimentos a serem consumidos pelo Homem, uma vez que há indícios do seu uso já na pré-história. Espalharam-se por toda a Europa a partir da Grécia. Durante a Idade Média, as pessoas tinham um acesso bastante limitado à farinha de trigo, e, então, as castanhas eram a sua principal fonte de hidratos de carbono. As castanhas, tradicionalmente, eram dadas aos pobres, e representavam a abundância e o alimento, daí serem o símbolo da festa de S. Martinho, e também da festa de S. Simão, na Toscânia.

As castanhas contêm o dobro do amido das batatas e, por isso, não surpreende que sejam um importante alimento na China, no Japão e na Europa do Sul, onde frequentemente são transformadas em farinha, a partir da qual se faz pão e massas, tanto que o castanheiro é conhecido por "árvore do pão". Não se devem comer castanhas cruas devido aos seus elevados índices de ácido tânico. Assim, devem ser cozinhadas de forma a evitar desconforto digestivo. Também, não devem ser comidas com casca. Quando cruas, torna-se virtualmente impossível descascá-las, embora o possas fazer com uma boa dose de paciência e cuidado! É bastante mais fácil retirar-lhes a casca quando cozinhadas. Para que as castanhas se conservem ao longo do Inverno, estas devem ser perfeitamente secas, a partir do momento em que deixam o ouriço; depois é colocá-las numa caixa ou recipiente coberto com areia fina e seca, numa proporção de 3 partes de areia para uma de castanhas. Na eventualidade de alguma castanha ter “bicho” (larvas de insectos), estes irão emergir à superfície da areia em busca de ar, e assim evita-se que se contaminem as outras castanhas.As que pretenderes plantar na primavera, precisam de ser mantidas em areia húmida e expostas ao frio no Inverno.As castanhas são deliciosas, e muito saudáveis, pois são ricas em nutrientes. Têm bastante água, contêm muito pouco óleo, e são virtualmente livres de gordura. São ricas em hidratos de carbono complexos e contêm proteína de elevada qualidade – comparável com a do ovo – não têm glúten, nem colesterol.
Texto: (resumo) centrovegetariano.org

sábado, 27 de dezembro de 2008

02-11-2008 Vale de Campeã – Vila Real (1)

PASSEIOS DA CARAMULINHA
Caminhos do Vale Sereno – 3km

«Eis-nos na região Norte de Portugal, no montanhoso Distrito de Vila Real, a 41º/42º a Norte do Equador e a 7º/8º a Oeste de Greenwich. Ladeando-o os Distritos de Braga e Porto a Oeste, Viseu a Sul, Bragança a Este e Espanha a Norte. Campeã... região situada a Sudoeste do Concelho de Vila Real que compreende as Freguesias de Vila Cova e Campeã, limitadas a Nordeste pela Freguesia da Pena e a este pela de Torgueda.
O verde e o cinzento fundem-se em harmoniosa união; o verde dos campos férteis e viçosos e o cinzento das imponentes serras do Marão e Alvão que ladeiam esta localidade.

Destas serras, extensos ribeiros, como o de Azibais, Azevinheiro, Vila Cova e Bouvinhas caminham com avidez para se encontrarem no extenso vale, salpicado aldeias de negro vestidas pelo xisto e pela ardósia, tais como Pêpe, a mais populosa, Quintã, Aveção do Cabo, Chão Grande e Aveçãozinho, entre outros lugares. Estas populações, outrora mais isoladas, estão actualmente em união por ramais de estreitas estradas municipais. As distâncias encurtam-se e para que o longe se torne perto, construiu-se o IP4, cujo aparecimento favoreceu particularmente esta região.
Este fértil e verdejante Vale, outrora uma lagoa montanhosa, cujos vestígios ainda se encontram na Lagoa da Sardoeira na Quintã, é um dos mais produtivos do concelho de Vila Real, em virtude de ser formado por terras de aluvião, arrastadas pelas torrentes caudalosas dos ribeiros, que no rigor do Inverno descem, depositam-se e infiltram-se no solo, adubando-o. As vertentes vestem-se de carvalhos, cujas folhas caducas amarelecem no Outono, cobrindo o solo de um manto castanho dourado.

Os ramos aquecem no Inverno os lares e a alma desta gente, os troncos transformam-se em mobiliário; vestem-se de pinheiros que acentuam durante todo o ano o verde do vale, agasalhando as gentes e dando no choro dos seus troncos a resina tão útil a diversas indústrias. O colorido das montanhas é ainda acentuado pelos pequenos arbustos, tais como, carquejas, urzes, tojos e giestas. Bordando os ribeiros encontramos os sedentos vidoeiros, os salgueiros, amieiros e vimeiros tão úteis ao artesanato local. Desta miscelânea vegetal salientamos ainda o freixo, o cedro e a tília que saltando de um lugar para o outro, vão salpicando o vale e ornando as estradas. O nosso olhar pousou no verde e vermelho do doce azevinho que apesar de ameaçado de extinção, ainda "vive" em abundância nesta fresca paisagem.

Os rigores do frio e a aspereza das montanhas não impede que as pessoas desta região tenham como principal actividade a agricultura. A riqueza do vale proporciona a produção variada de espécies vegetais, sendo de destacar a batata, conhecida pelo nome de "ginja", com características especiais, como polpa mole, pele avermelhada e sabor muito agradável. Esta batata é muito usada para semente, é resistente às doenças dos batatais e adaptou-se facilmente ao solo. Os castanheiros abundam e o seu fruto é comercializado, quer "pilado" seco no "caniço" quer ao natural. São duas as espécies cultivadas: a castanha "bebim", grande, de bom sabor, utilizada na culinária e a castanha"benfeita", de tamanho médio, muito boa e de óptimo sabor, consumida ao natural ou em receitas de culinária diversas.

É de destacar a criação de gado maronês, cuja elevada qualidade se deve às excelentes pastagens do Vale da Campeã. Dada a sua importância económica na região, realizam-se duas feiras de gado nos dias 10 e 21 de cada mês. Existe ainda uma excelente produção de vinho nas povoações de Cotorinho, Montes e Parada. Para além destas actividades, as nossas "gentes" dedicam-se ainda ao cultivo do milho, trigo, centeio, feijão e outros produtos hortícolas, que constituem a base da nossa alimentação. De realçar que os campos estão coloridos pela existência de árvores de fruto, tais como a macieira, pereira, pessegueiro, cerejeira, figueira, aveleira, ameixoeira, entre outras.»
Texto: Alunos 3º/4º Ano da Escola EB1 – Vendas

Obrigada!... Por estas palavras tão belas como descreveis a vossa maravilhosa terra.
Nesta tarde esplêndida de Outono, fizemos um pequeno e improvisado passeio de 3km pelo “Vale Sereno” desta simpática Freguesia que, brevemente regressaremos para um percurso mais extenso e nos dará a conhecer outras povoações e outros lugares igualmente prósperos e belos.
Para o próximo dia 9 estaremos no S. Martinho de Mondim de Basto.
Contem connosco!

Até lá,
Beijinhos da “Caramulinha”

Continua…

02-11-2008 Vale de Campeã – Vila Real (2)

PASSEIOS DA CARAMULINHA
Caminhos do Vale Sereno – 3km


A Palavra

Falo da Natureza.
E nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras,
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo, e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei
As reconheço agora.

Poema de Miguel Torga

Continua…

02-11-2008 Vale de Campeã – Vila Real (3)

PASSEIOS DA CARAMULINHA
Caminhos do Vale Sereno – 3km

Improviso no Outono

Donde vem? De que sorriso
Ou fonte
Ou pedra aberta?
E é para ti que canta
Ou, simplesmente,
Para ninguém?

Que juventude
Te morde ainda os lábios?
Que rumor de abelhas
Te sobe pela garganta?
Não perguntes; escuta:
É para ti que canta!

Poema de Eugénio de Andrade

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL

Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente de bem.


Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?

Poema de Sidónio Muralha

sábado, 20 de dezembro de 2008

25-10-2008 PR “Cumieira” (1)

Trilho do Céu e da Terra – 7 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião

Olá

Foi num dia solarengo e tão lindo de Outono que regressamos às terras “Durienses” e viemos percorrer este belo trilho. Na realidade, encontrar outro título mais apropriado seria difícil como até desvirtuá-lo.
Mais uma vez gostamos da descrição do percurso pelas Entidades que o promoveram, feita com tanto realismo e duma riqueza poética que não é necessário acrescentar mais palavras, apenas percorrê-lo com serenidade pois…”o esforço compensa como uma nascente de água fresca…”
Óh, meu Deus! Tanta beleza! … ou não estivéssemos numa região que é Património da Humanidade!

«Podemos chamá-lo de Trilho da Terra e do Céu, tais são as alturas a que subimos e as profundidades a que descemos. Mas vale a pena o esforço. Compensa como uma nascente de água fresca quando o deserto cansa e a sede abrasa.

Do alto da capela de Santa Bárbara o olhar foge para a lonjura das cumeadas, que se perdem em gradações de cinzas e azuis, e delas regressa contrafeito. Com ele leva a imaginação e o sonho que alimentam a fantasia do partir à descoberta. Vila Real vê-se numa espécie de vista de pássaro em aproximação.

Os vinhedos e os olivais desenham os sulcos do esforço no chão xistoso, fértil e íngreme. As povoações parecem rebanhos de casas pastando a verde paisagem e dão-lhe uma alegria alva e risonha. Descendo as encostas íngremes, a que as videiras se agarram em filas e traços, encontramos a povoação de Veiga, um aglomerado de casas claras envolvido de verde, em sorriso alegre no fundo do vale, de pessoas simpáticas e comunicativas.

É um verde fértil, festivo na abundância de hortas, de flores, de vinhas, de castas de uvas para vinho e para a mesa. De lá de baixo, do fundo do vale e olhando para as encostas que parecem tocar as nuvens, a visão é encantatória e chega a impressionar pela dimensão telúrica e humana que evidencia. De cima, da EN2, vê-se o vale profundo e plano enfeitado por desenhos de propriedades e vegetação, pelo Arcadela de águas límpidas e pelo sorriso alegre do casario.

As vinhas que dão uvas para o vinho do Porto empoleiram-se nos socalcos. As pessoas são de uma simpatia espontânea e comunicativa como só um povo que se habituou a tratar a mãe-terra por “tu” consegue ter. Amam o lugar onde vivem e estão-lhe gratas pela sua fertilidade.

Não há terra como a Veiga
em todo o Penaguião:

Penaguião só dá vinho,
Veiga dá vinho e pão.


Esta quadra, ensinada por um dos seus habitantes que no-la disse com um brilho de orgulho nos olhos, ilustra plenamente o que os olhos de todos os visitantes podem ver. Mas o Trilho, caprichoso e orgulhoso das suas belezas leva-nos a outros lugares.

Todos eles têm algo de único, seja pela paisagem, seja pelas memórias gravadas nas pedras das capelas e das casas mais antigas.
Quando partimos, depois de percorridos todos os quilómetros, apetece-nos voltar uma e outra vez.»
Texto: Folheto do Percurso (C. M. Santa Marta Penaguião)

Continua…

25-10-2008 PR “Cumieira” (2)

Trilho do Céu e da Terra – 7 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião

A Viticultura do Douro (A)

Da pedra se fez terra,
Do sol bravo o licor generoso,
Que tem um ressaibo de brasa
E de framboesa.
Aquilino Ribeiro

Os Montes, as Videiras e o Rio

«A Viticultura do Douro não pode deixar de ser tida como o exemplo mais vivo da perfeita simbiose entre agricultura e o meio ambiente; para ela ter sido possível nas encostas alcantiladas do Douro e dos seus afluentes, o Homem teve de construir mais de dois milhares de quilómetros de muros, criando os tradicionais “calços ou socalcos” e, neles, do “xisto-pedra” fazer terra onde vingassem os bacelos, para hoje podermos desfrutar da paisagem maravilhosa e inigualável - que é Património Mundial - onde se produzem vinhos afamados.Dele, do Douro, diz-nos João de Araújo Correia: “O holandês subtraiu ao mar a terra que o sustenta; o duriense arrancou-a, palmo a palmo, a uma natureza tão brava como o mar”, ou ainda, segundo Miguel Torga, “E (o Douro) é, no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensurável com que podemos assombrar o Mundo”.
O Douro é uma região vitícola em que a paisagem se identifica com o seu rio, em cujas encostas prevalece a monocultura de um vinho fino – o Vinho do Porto – e de um outro não menos nobre – o Douro – tirando proveito de um micro clima de características mediterrânicas e da natureza xistosa dos seus solos.Trata-se, pois, de uma paisagem com características peculiares que o homem duriense soube, não só preservar, como valorizar ao longo de muitas “gerações de sacrifício”. A sua capacidade de resistência e a vontade de vencer estão bem patentes não só no esforço e dureza dos trabalhos associados à plantação das vinhas (em que os Galegos tiveram também papel preponderante) em condições de relevo agressivas e ainda no transporte das pipas nos barcos “rabelo” com condições de incomodidade e de risco até ao cais da Ribeira em Vila Nova de Gaia, como ainda na teimosia, determinação, capacidade de sofrimento e resistência que são, entre outros, atributos de um Homem que se não deixou soçobrar à razia provocada pelo aparecimento e rápida expansão da filoxera em 1868, reabilitando uma paisagem e um produto que são, hoje, uma das maiores referências do nosso País.
Só a tenacidade e teimosia do Homem do Douro a venceu, a partir da altura em que Joaquim Pinheiro de Azevedo Leite Pereira, nas suas propriedades de Sabrosa, conseguiu descobrir o antídoto para tal praga: a enxertia das castas europeias em bacelo americano.
Mas foi sol de pouca dura para os problemas dos Viticultores; tinham acabado de vencer a Filoxera, mas, logo em 1893, surgem os ataques de uma nova doença desconhecida – o Míldio da videira. E a grande verdade é que, se a Filoxera “se foi”…, hoje ele tem ainda de viver e saber conviver com aquela nova praga; com fungicidas de contacto, como era o sulfato de cobre, ou, progressivamente, com os sistémicos, os de dupla acção, os penetrantes, etc. No Douro convergem, para além deste espírito dos seus naturais, outros três elementos essenciais à criação das condições naturais para o surgimento deste produto ímpar e inigualável que é o Vinho do Porto e que tão bem João de Araújo Correia, escritor duriense contemporâneo descreve neste seu poema: “Tem montes e montes a crescer/Videiras que ninguém pode contar/Oliveiras que vivem a rezar/E um rio que não para de correr. Região de monocultura, onde apenas a oliveira e algumas fruteiras aparecem associadas aqui ou além para a produção de azeite e fruta para auto consumo, a vinha representa cerca de 45 mil hectares, sendo cultivada por aproximadamente 30 mil viticultores.A Denominação Douro, regulamentada apenas a partir de 1982, representa um volume de certificação anual de cerca de 200 mil hectolitros e é comercializada respectivamente e por ordem decrescente de volume por Comerciantes, Adegas Cooperativas e Produtores Engarrafadores.Trata-se ainda de uma Região que emprega na agricultura 47,5% da sua população, onde é difícil sobreviver e que, para além disso, apresenta dados socio-económicos preocupantes no que respeita ao envelhecimento da população – a população com menos de 15 anos ficou reduzida em 45% de 1970 a 1991, enquanto que a de mais de 60 anos aumentou 35% no mesmo período. A taxa de natalidade em 1990 era de 11,5% e a de mortalidade 12,2 %. O analfabetismo atinge 18,2%, havendo concelhos que se aproximam dos 30%, com mão-de-obra pouco qualificada, muito baixo dinamismo económico de base industrial e, pelo contrário, elevado índice de ruralidade que pode ser atestado pelo facto de se verificar que não só cerca de 50% da população vive em aglomerados com menos de 500 habitantes como, por outro lado, em três centros – Lamego, Vila Real e Peso da Régua – se localiza ¼ da população do Douro, isto é, cerca de 60 mil habitantes.»
Texto: (resumo) Bayer Crop Science

Continua…

25-10-2008 PR “Cumieira” (3)

Trilho do Céu e da Terra – 7 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião


A Viticultura do Douro (B)
Personagens “Ilustres”

A Ferreirinha

Falar do Vinho do Porto e do Douro sem falar de D. Antónia é quase impossível. Personagem da vida do Douro e do Vinho do Porto, conhecida por "Ferreirinha", nasceu na Régua em 1811. Mulher determinada e corajosa, construiu um enorme império durante o século XIX.
Era uma pessoa que gostava de ajudar os mais pobres, que teve a coragem de desafiar homens poderosos e serviu de exemplo e orgulho das gentes Durienses.
A história dos Ferreiras começa com Bernardo Ferreira, proprietário no Douro, que sob pena de prisão foi obrigado pelo Marquês de Pombal a cultivar umas terras denominadas de Montes de Rodo, convertendo-as em bonitas quintas. Com este tipo de medidas, não muito correctas, o Marquês de Pombal conseguiu que muitos proprietários aumentassem os seus bens agrícolas. Foi morto pelas tropas de Napoleão, pois estas confundiram-no com um desertor, quando lhes dirigiu a palavra num impecável francês. Deixou 3 filhos, José, António e Francisco. José e António tiveram respectivamente uma filha, Antónia Adelaide, e um filho, António Bernardo, que casaram em 1834. Deste casamento têm 3 filhos, Maria d`Assunção (mais tarde condessa de Azambuja), um rapaz, de seu nome António Bernardo, e Maria Virgínia (tendo morrido em menina). D. Antónia ficaria viúva com apenas 32 anos e voltaria casar em 1856, durante o seu "exílio" em Londres, com Francisco José da Silva Torres. Após a morte do seu primeiro marido, a coragem desta senhora não pára: fez grandes plantações de vinha no Douro, obras de benfeitoria, contratou colaboradores, construiu armazéns, comprou quintas importantes (Aciprestes, Porto, Mileu) e fundou outras, como o Monte Meão, tornando-se figura de primeira grandeza. Tão importante que o Duque de Saldanha (um dos homens mais poderosos do seu tempo) pretendia casar o seu filho com a menina Maria d`Assunção. Após recusa de Dª Antónia, o Duque, habituado a não ser contrariado, manda os seus homens raptar a menina de apenas 12 anos. Ao saber da estratégia do Duque fogem para Espanha e depois para Inglaterra onde se refugiam. Na sua ausência seria Joaquim Monteiro Maia, seu colaborador, que tomaria conta do negócio. Em 12 de Maio de 1861, quando descia o rio na zona do Cachão da Valeira e após naufrágio do barco onde seguia, assiste à morte do seu amigo o Barão de Forrester. O ano de 1868 foi um ano excelente, as qualidades de vinho eram enormes e os viticultores não conseguiam vender o seu vinho. D. Antónia compra enormes quantidades de vinho para ajudar os agricultores na luta contra os baixos preços praticados pela abundância de vinho. Dois anos mais tarde surge a praga do oídio que destrói quase a totalidade dos vinhedos, atirando os Durienses para a miséria. Mulher com uma capacidade enorme de negociar, pôde com alguma facilidade negociar com os ingleses todo o seu vinho que permanecia nos armazéns, contribuindo, assim, para um enriquecimento da casa Ferreira.
Em 1880 fica novamente viúva mas este seu descontentamento não a impossibilitou de continuar a obra de benfeitoria que havia começado, com os hospitais de Vila Real, Régua, Moncorvo e Lamego. D. Antónia é sem dúvida uma das maiores, se não a maior, personagem na história da região do Douro e do Vinho do Porto. Faleceu em 1896, aos 85 anos, na Casa das Nogueiras (Quinta das Nogueiras). O Douro perdera a sua Rainha. Actualmente a A. A. Ferreira, considerada uma das mais importantes casas de Vinho do Porto, já não faz parte da Família, tendo sido vendida em 1987 ao grupo Sogrape. Continua, contudo, a entregar anualmente o "Prémio Dona Antónia", destinado a distinguir as mulheres que mais se evidenciaram no mundo empresarial português.
Texto: Abílio Forrester Zamith In “Guia do Vinho do Porto”

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A Viticultura do Douro (C)

Personagens “Ilustres”
O Barão de Forrester


Joseph James Forrester nasceu na Escócia a 21 de Maio1809 e morreu misteriosamente no rio Douro em 12 de Maio de 1861.Veio muito novo viver para o Porto, para a casa de um tio, negociante muito abastado, que comprava as pipas de vinho do Porto por dez mil réis e depois as vendia na Inglaterra por mais de setenta. Educou o sobrinho para lhe continuar o negócio, mas ao jovem aconteceu algo de belo e imprevisível: apaixonou-se pelo rio Douro.
A compra e venda da produção dos lavradores eram para ele apenas um pretexto para viver no rio. Tal era a paixão fluvial, que mandou construir um barco do estilo rabelo, para aí poder permanecer por longos períodos e receber os seus amigos e pessoas importantes da época, aos quais oferecia jantares esplêndidos. Conta a história que este barco, de tão requintado e luxuoso que era, impressionou na época, não só pela magnífica tripulação rigorosamente uniformizada, mas também por já dispor de magnificas condições, tais como: cozinha, sala de jantar, leitos e retrete. Acompanhado pelos mais valentes marinheiros, o barão navegava desde o Porto até Barca de Alva, ficando horas e horas ancorado no fundo do rio, a desenhar os pormenores das margens, as encostas a descer em catarata até ás ribas rochosas, os cachões sinuosos que a água fazia entre as valeiras, e redigia notas para os seus opúsculos sobre o Douro. A coroa de glória a que aspirava, conseguiu completá-la: o Mapa do Douro, um minucioso levantamento reduzido a um desenho de três metros de comprido e 68 cm de largo, nunca sendo comercializado, mas sim oferecido a quem se mostrasse interessado, independentemente da classe social a que pertencesse. Nunca um rio português tinha sido estudado com tanto amor, tanto rigor científico, tanta despreocupação material. Este trabalho esplendoroso, adicionado aos vários mapas da região demarcada, fez com que o governo lhe atribuísse a honraria do título de Barão, constituindo um feito inédito até então, conseguido por um estrangeiro.
Em Maio de 1861, o barão de Forrester foi visitar D. Antónia Adelaide Ferreira, a uma das de mais de meia centena de quintas de que a famosa Ferreirinha era proprietária: A Quinta do Vesúvio. Esta quinta, situada na Horta de Numão, entre a Pesqueira e Foz Côa, e que contém dentro dos seus muros sete montes e trinta vales, era uma das preferidas de D. Antónia. Ali a detentora de uma das maiores fortunas do Douro primava em receber as suas visitas, debaixo de uma frondosa palmeira que ainda hoje existe. Ao instalar-se o barão no Vesúvio, aumentou assim o número de visitantes que já ali se encontravam, a saber, a filha de D. Antónia, o genro (jovem conde de Azambuja) e ainda o juiz de direito da comarca, que apreciava muito não se sabe se a quinta, se o famoso vinho, se a Ferreirinha. D. Adelaide, ao ver-se ladeada de toda esta gente, e talvez um pouco saturada de tantas visitas, decide anunciar a sua partida no dia seguinte para a Régua. O barão disponibiliza-se de imediato para a acompanhar, ao que recebeu resposta negativa da proprietária, alegando que o mesmo não tinha lá o seu barco. Num gesto de galanteio e contra resposta, o barão fez questão de a acompanhar, porque era conhecedor do percurso e seria o governador do barco da enérgica Senhora. Separava-os da "Princesa do Douro" a distância de cinquenta e seis quilómetros e havia que passar pela pior garganta do curso: o cachão da Valeira. Era este o local que mais impressionava o barão, e por ele desenhado várias vezes. Foi precisamente aí que a tragédia caiu sobre os viajantes.
Os remeiros não puderam evitar a força da torrente, o barco afundou-se e todos os ocupantes foram atirados para as águas revoltosas do rio. As grandes saias de balão que então se usavam seriam motivo de salvação das senhoras. Os cavalheiros tiveram outra sorte.
Desapareceram dois criados de D. Adelaide, e os cadáveres encontraram-se dias depois nas imediações da Régua. Até um caixote com pratas que a Ferreirinha levava para a Quinta de Travassos em Loureiro, veio a aparecer longe, entalado na roda de uma azenha. Só do Barão não houve mais notícias. Vieram mergulhadores, na esperança de encontrar o corpo, sendo todas as tentativas infrutíferas. O Barão, que sempre usava um grande cinto de cabedal atulhado de libras de ouro, tinha nesse dia calçado grandes botas pretas, que chegavam ao cimo da anca, e tudo aquilo era ouro escondido.O Barão de Forrester desapareceria, nas profundas deste rio, amante sôfrego, que o abraçou para sempre e o não deixou mais partir. Sentida e merecida homenagem a este amante do Douro e do seu rio.
Texto: castanheira2006.blogs.sapo.pt

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A Viticultura do Douro (D)
Personagens “Ilustres”

O Marquês de Pombal

O criador da Região Demarcada do Douro foi Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, mais tarde, em 1769, Marquês de Pombal. Nasceu em Lisboa a 13 de Maio de 1699 e veio a falecer na sua quinta em Pombal a 8 de Maio de 1782.
Senhor de personalidade e feitio muito próprios, foi na sua época contestado por alguns. Com a sua maneira autoritária de governar, violenta por vezes, soube lançar sólidos alicerces para uma região demarcada de muito prestígio.
A criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, por Sebastião José de Carvalho e Melo ficou a dever-se a homens de muito mérito, como ao Dr. Luiz Beleza de Andrade, que era natural do Porto e grande viticultor nesta região do Douro, ao espanhol biscaínho D. Bartholomeu Pancorbo e ao Padre Mestre Dr. Frei João de Mansilha, natural de S. Miguel de Lobrigos.
Esta Companhia, em 1756, tinha como principais objectivos:
- A demarcação da região;
- Fiscalização dos vinhos de embarque;
- Passagem de guias de trânsito para os vinhos;
- Estabilização de preços e qualidade nos vinhos;
- Privilégio nas vendas dos vinhos para a cidade do Porto e locais circunvizinhos;
- O privilégio no fabrico e fornecimento de aguardentes.
A Companhia organizava todos os anos, em Fevereiro, a importante “Feira dos Vinhos”, que consistia em chamar os lavradores do Douro à sua casa no Peso da Régua, e aí, durante 8 dias, transaccionarem os seus vinhos. Como nessa altura, na vila, não existiam pensões, a Companhia proporcionava aos lavradores lautos banquetes.
Texto: C.M. de Peso da Régua

Condenação à Morte
A Rebelião e a “punição exemplar” (1757)

«Como foi dito sobre a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, este ano de 1757 iria ficar todo ele marcado pelo evoluir dos acontecimentos que a contestação à criação daquela, fomentou. O grande incremento na exportação do vinho do Porto, sobretudo para Inglaterra, tinha vindo a provocar a degradação da qualidade do produto e a consequente quebra de preços, veio como disse a estar na origem da criação daquela Companhia, para tentar regularizar a situação. Foi então criada, por Sebastião José a primeira região demarcada do Mundo de vinho, sendo cometida aquela Companhia amplos poderes mas também substanciais inimizades, da parte de quem ficava excluído da possibilidade de continuar a exportar aquele produto, por falta de qualidade. Curiosamente não foram os vinhateiros excluídos, que provocaram a contestação que se seguiu, foram os taberneiros e a população menos qualificada da cidade do Porto que reagiram contra os privilégios da Companhia, que também pretendia reduzir o excessivo número de tabernas que existiam na cidade. No dia 23 de Fevereiro de 1757 juntou-se uma enorme multidão no terreiro da Cordoaria, gritando "Viva o rei ! Viva o povo ! Morra a Companhia !", obrigando o governador do Tribunal da Relação do Porto a decretar a suspensão da Companhia, tendo depois da manifestação, se dirigido para os escritórios da Companhia e lançada à rua a documentação.
Voltaram mais tarde em 15 do mês seguinte a haver novos distúrbios. A repressão e as prisões que se seguiram acabaram em julgamento, que redundou implacável, com forte aparato policial de cerca de 3000 soldados, com o nítido propósito de intimidar a população da cidade que esteve sitiada mais de 1 ano. Durante meses, houve cerca de 500 detidos e a sentença é proferida em 12 de Outubro, sendo condenados à morte 21 homens e 9 mulheres, tendo os outros 448 réus sofrido várias penas - envio para as galés, açoites, confiscação de bens.Trinta e dois homens e quatro mulheres são absolvidos, tendo 183 sido libertados durante a instrução do processo. A 14 de Outubro foi a execução pública de 17 dos condenados à morte por sublevação contra a Companhia das Vinhas do Alto Douro, com a agravante de ser considerado crime de “lesa majestade.” Enforcados em vários pontos destacados da cidade e depois de decapitadas as cabeças foram espetadas em paus à entradas da cidade, como exemplo demonstrativo à população que não convinha repetir. Aliás, o juiz Pacheco Pereira deixara bem expresso que se visava a punição exemplar, para que durante muitos séculos não houvesse rebeliões em Portugal.
Texto: domjoseprimeiro.blogspot.com

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A Poesia de um Rio

"Douro"

« (...) Desse retalho de terra, sempre verde, avistava eu, ao desenfado e sempre que queria, um velho amigo, um trabalhador incansável, que me viu nascer e me abandonou de um dia para o outro. Quero referir-me ao rio arcaico, milenário, que me contava uma história cheia de pavores e doçuras, quando me via sentado, num banco de pinho, ao fundo do meu quintal. Esse rio morreu, deixou de ser rio para ser um lago artificial imenso, parado ou pasmado a meus pés, como cadáver que a morte dilatasse. O dinheiro dos homens, para se multiplicar, a troco de dar luz e energia ao mundo, pega no meu rio, que era bravo e impetuoso como um toiro, e amansa-o em lago. Fez dele um boi no pasto ou uma choca no fim de uma toirada. O meu rio, que era poeta heróico e poeta idílico, ao sabor das horas, que as contava de todos os feitios, era também artista. Com que paciência, durante séculos de séculos, não foi esculpindo, na rocha dura, maravilhas de arte... Hoje, lago empanturrado, mais rico que um porco, já não tem força e até se envergonha de pegar no maço e no cinzel. Deixá-lo, que o progresso manda...»

Texto: (resumo) Pontos Finais
João de Araújo Correia


Durius Dulcis

Depois que me senti envelhecer,
Passo horas e horas no meu lar,
De janela em janela, a espreitar
O breve mundo que me viu nascer.

Tem montes que não deixam de crescer,
Videiras que ninguém pode contar,
Oliveiras que vivem a rezar
E um rio que não para de correr.

Este pedaço de viril beleza,
Este painel de rica natureza
Irá comigo para o Além.

Sempre lhe quis e sempre o defendi,
Fui eu até que um dia o descobri...
Não o posso deixar a mais ninguém.

Poema de João de Araújo Correia

Uma Região...que está a mudar!

«(…) Cingido à realidade humana do momento, romanceei um Doiro atribulado, de classes, injustiças, suor e miséria. E esse Doiro, felizmente está a mudar. Não tanto como o querem fazer acreditar certas más consciências, mas, enfim, em muitos aspectos, é sensivelmente diferente do que descrevi. Desapareceram os patrões tirânicos, as cardenhas degradantes, os salários de fome. As rogas descem da Montanha de camioneta, a alimentação melhorou, o trabalho é menos duro. Também o rio já não tem cachões, afogados em albufeiras de calmaria (…)»

Palavras de Miguel Torga

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Adeus

Dedico estas palavras a todos (as) Colegas de trabalho que nos últimos dias, quase ininterruptamente, têm sido despedidos (as) da Empresa.
Vítimas da crise…aguardo a minha vez.
Que momentos terríveis e dramáticos. O meu coração sangra e os meus olhos não param de chorar…pela vossa ausência, por tudo aquilo que vivemos ao longo de tantos anos!
Peço-vos desculpa mas, não consigo estar presente amanhã naquele “jantar de Natal”?!
Que Natal?
Que tristeza!

Correm dos meus olhos
Lágrimas de tristeza e de saudade.
Foram tantos anos com vocês aqui.
Mas, num Mundo de tanta maldade,
Mandam-vos embora para ali…
Para o desemprego obscuro,
Que há 16 anos eu já conheci!
Oh, meu Deus! Como é tão duro!
Como irei suportar a vossa ausência?
Não me esqueço de vocês! Não se esqueçam de mim!
Só injustiça! Como posso ter paciência? …
Vocês partem sem destino
E deixam-me nesta amargura, nesta solidão.
Sem emprego e com filhos, ides viver dum subsídio…
Tínhamos esperança e é tudo desilusão!
Afinal, a “eles” que lhes importa
Se na desgraça há mais uma vida perdida,
Todos os dias que alguém sai aquela porta
E damos o último beijo de despedida?!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Os Dias do Silêncio (1)

08-12-2008 – Apresentação na Livraria Bertrand / Porto
Poeta Nadina Carvalho


Despertos pela tarde de Sol, que raramente tem brilhado nestes últimos dias de Outono, quase a despedir-se, criou-nos disposição e alguma ansiedade para irmos assistir à Apresentação, na Livraria Bertrand, Rua Júlio Dinis, no Porto, ao lançamento do 2º livro da autoria da jovem Poeta Nadina Carvalho, “Os Dias do Silêncio”.
Nadina Carvalho havia já editado em 2005 o seu 1º livro de Poesia “Memórias de uma Lua”, onde a autora nos descreve a sua visão da Vida e os seus sentimentos, como sonhos imaginários das quatro fases da Lua.
Deveras fantástico!
Passados dois anos, surge “Os Dias do Silêncio” que, no dizer de Nadina, «…é uma viagem poética e meditativa ao interior das coisas, à profundidade do que nos inquieta o espírito, à evocação das memórias, à sublimação das ligações e dos afectos, ao mistério das transformações da vida.Um leque de poemas que, verso a verso, nos convidam a entrarmos no silêncio das palavras e a ouvirmos o seu eco no interior de nós mesmos.»
Para sorte de quem gosta de Poesia “pura”, (e descrevendo as palavras de Fátima Silva, autora do Prefácio): «… brinda-nos com poemas “que falam”, nova colectânea onde é visível a sua sensibilidade, a sua insatisfação, o seu desejo de um Mundo mais consentâneo com uma Humanidade de corpo inteiro.
Percorrendo a temática recorrente da poesia universal, Nadina revisita a infância, fala da miséria, dos Amigos, de esperanças e desilusões… em cada linha, cada verso, num hino à Vida e ao intercambio de sentimentos, que dão sentido a uma verdadeira existência humana.
(…) Usando indiferentemente verso branco ou rimado, com métrica também muito variada, Nadina Carvalho canta a Língua Portuguesa, canta o prazer do discurso, porque afinal “As Palavras são o Lema do Destino”»
O arquitecto Veiga Luís, é o autor da capa em relevo e das ilustrações.
Momento mágico, foi a declamação de poemas do novo livro por Cidália Santos, Lígia de Bastos, Fátima Silva e pela própria Nadina Carvalho.
Simplesmente… “Emotivo e Fascinante”!

Parabéns, Nadina, por mais um fantástico livrinho, que trouxe comigo como um doce néctar que irá adocicar o meu coração!

Às “manas” Ângela e Nadina, desejamos Toda a Felicidade… até o Mundo acabar!

Continua…

Os Dias do Silêncio (2)

08-12-2008 – Apresentação na Livraria Bertrand / Porto
Poeta Nadina Carvalho


Nadina Carvalho nasceu em Março de 1976, no Porto.
O seu sentido crítico e a sua acentuada sensibilidade para pensar tudo ao seu redor, moveram-na sempre a escrever e a buscar em todas as facetas da arte um meio de se expressar livremente. Ainda na sua adolescência ganhou um prémio de poesia na então Escola Secundária Rainha Santa Isabel, no Porto.
E foi o gosto pela escrita que a levou a licenciar-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa.
Durante algum tempo exerceu jornalismo na área da cultura e espectáculos como freelancer em jornais nacionais, regionais e algumas edições locais.

Publicou os livros “Memórias de uma Lua” e “Os Dias do Silêncio”
Visitem o seu blogue: http://nadinacarvalho.blogspot.com/

POEMAS DE NADINA CARVALHO

«Memórias de uma Lua»

Ícaro

Toda a Vida vivi como Ícaro,
Sonhando voar,
Tão alto chegar, sem temer a queda
E leda e lesta buscando sóis
Para depois,
Sucumbir ao peso dos meus sonhos.

Agora que tenho asas, sol e vontade,
Os sonhos parecem esmorecer.
É tempo do pensamento
Grita a verdade,
Sair das cinzas,
Erguer poder.

«Os Dias do Silêncio»

Sou pássaro

Cansada de caminhar, sigo devagar
Para não acordar os pássaros.

E pelo caminho que sigo
Separo o joio do trigo
A cada pássaro que dou.

Estou cansada de escolher, de esconder
As minhas asas de condor,
De esquecer que também eu sou pássaro.

Estou cansada de não despertar os pássaros,
Por recear acordar em mim a vontade
De deixar este trilho e voar, planar
Sem saber onde poisar
Um vale, um campo ou uma nuvem.