Neste dia em que se lembra a "Mulher" leiam estas comoventes cartas que... Gertrudes da Costa Lobo escreveu a Camilo Castelo Branco, a 15 de Julho de 1854.
(Sábado - dez horas da manhã)
«Nunca esperei carta tua com tanta ansiedade como a que experimento desde ontem: nunca vi aproximarem-se as horas de a receber com tanto sobressalto e agitação como agora. O que me dirás? Escreves-me talvez neste momento em que eu ainda sem ter recebido a tua carta, principio a escrever-te a que deve ser a resposta! O que se passa, pois, no teu coração, que vem ecoar tão profundamente no meu? É impossível que esta hora não seja de grande peso, e de grande influência para a minha vida, porque eu sinto alguma coisa de muito estranho a dominar-me. Não poderia dizer-te precisamente o que é; porém sentindo-me ligada a ti tão estreitamente que, se o ar que respiro não é o que respiras, a vida que vivo deve ser a que tu vives, experimento ao mesmo tempo alguma coisa de tão lacerante que deve semelhar-se ao que deveria sentir, se quebrasse esta cadeia invisível que me prende a ti!... Espero a tua carta: não posso escrever-te mais, assim como não posso deixar de o fazer.»
«Nunca esperei carta tua com tanta ansiedade como a que experimento desde ontem: nunca vi aproximarem-se as horas de a receber com tanto sobressalto e agitação como agora. O que me dirás? Escreves-me talvez neste momento em que eu ainda sem ter recebido a tua carta, principio a escrever-te a que deve ser a resposta! O que se passa, pois, no teu coração, que vem ecoar tão profundamente no meu? É impossível que esta hora não seja de grande peso, e de grande influência para a minha vida, porque eu sinto alguma coisa de muito estranho a dominar-me. Não poderia dizer-te precisamente o que é; porém sentindo-me ligada a ti tão estreitamente que, se o ar que respiro não é o que respiras, a vida que vivo deve ser a que tu vives, experimento ao mesmo tempo alguma coisa de tão lacerante que deve semelhar-se ao que deveria sentir, se quebrasse esta cadeia invisível que me prende a ti!... Espero a tua carta: não posso escrever-te mais, assim como não posso deixar de o fazer.»
(Às três horas da tarde)
«Compreendo-te! O meu coração não se tinha enganado! Ele devia sentir o que sentiu nessas horas que passaram. Deus, na sua bondade infinita permitiu que eu tivesse com antecipação o pressentimento da impressão que ia receber, como se quisesse - por um excesso d’amor - preparar-me para ela. E do meu coração que se ergue até ao Seu trono um louvor infinito pela força que me dá, e que parte para ti, um agradecimento imenso e profundo pela delicadeza com que procuras fazer-me ver a verdade. Eu devia compreender-te, e compreendi-te, até mesmo no que me não disseste. ”Ao teu abismo não pode já descer a mão d’alguém!” Não pode? Seja. Eu compreendo-te — acredita-o. Se a nossa correspondência deve terminar — termine, pois — não quero, nem preciso saber porquê. Não pode continuar?... Basta; não continuará. Nenhuma mulher se engana a respeito do sentimento que inspira, e das impressões que causa: eu não quero, nem tento iludir-me. Os teus versos, são a resposta à minha carta de 5ª feira — recebi-os como recebo tudo de ti; recolhi-os no coração, e guardo-os lá como guardo a crença, e a esperança d’uma vida melhor. Adeus. Acredita que em todo o tempo, seja qual for o destino que no futuro tenha de cumprir, serás para mim sempre o mesmo homem que foste desde que o teu nome me chegou ao coração: o mesmo que és neste instante em que te escrevo— aquele que ninguém ainda em ti encontrou — e por isso o sentimento que te dou, a ninguém o dei, e de ninguém o receberás.
«Compreendo-te! O meu coração não se tinha enganado! Ele devia sentir o que sentiu nessas horas que passaram. Deus, na sua bondade infinita permitiu que eu tivesse com antecipação o pressentimento da impressão que ia receber, como se quisesse - por um excesso d’amor - preparar-me para ela. E do meu coração que se ergue até ao Seu trono um louvor infinito pela força que me dá, e que parte para ti, um agradecimento imenso e profundo pela delicadeza com que procuras fazer-me ver a verdade. Eu devia compreender-te, e compreendi-te, até mesmo no que me não disseste. ”Ao teu abismo não pode já descer a mão d’alguém!” Não pode? Seja. Eu compreendo-te — acredita-o. Se a nossa correspondência deve terminar — termine, pois — não quero, nem preciso saber porquê. Não pode continuar?... Basta; não continuará. Nenhuma mulher se engana a respeito do sentimento que inspira, e das impressões que causa: eu não quero, nem tento iludir-me. Os teus versos, são a resposta à minha carta de 5ª feira — recebi-os como recebo tudo de ti; recolhi-os no coração, e guardo-os lá como guardo a crença, e a esperança d’uma vida melhor. Adeus. Acredita que em todo o tempo, seja qual for o destino que no futuro tenha de cumprir, serás para mim sempre o mesmo homem que foste desde que o teu nome me chegou ao coração: o mesmo que és neste instante em que te escrevo— aquele que ninguém ainda em ti encontrou — e por isso o sentimento que te dou, a ninguém o dei, e de ninguém o receberás.
Pelo coração sempre tua irmã »
"Os manuscritos de Gertrudes: diário íntimo e cartas de amor de Gertrudes da Costa Lobo..."
por Manuel Tavares Teles
Beijinhos da "Caramulinha"
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