domingo, 30 de novembro de 2008

12-10-2008 Aldeia de Quintandona (1)

Freguesia de Lagares - Penafiel
Vale do Sousa

«A aldeia de Quintandona é um lugar da Freguesia de Lagares, concelho de Penafiel. A história de Lagares remonta a épocas recuadas. A influência dos romanos atesta esta afirmação. Com efeito, alguns dos seus topónimos são de origem latina, nomeadamente Quintandona (de Quinta de Ónega ou de Dona Ónega), segundo A. de Almeida Fernandes.

Quintandona, juntamente com Escariz e Ordins, terá sido um núcleo populacional fundamental para a organização deste território. A ocupação remontará à época do povoamento, que teve lugar por meados do séc. VI.
Segundo J. Monteiro de Aguiar, os primeiros documentos escritos referentes à “villa de Lagares” datam de 1088.

No Foral Manuelino de Penafiel, o Rei Venturoso não esquece alguns casais de Lagares, exigindo tributos para consolidação das finanças régias, reforçando o poder central. Desses casais, cinco eram de Quintandona e pagavam nove reais cada um.
Hoje, a aldeia de Quintandona, consiste numa aldeia típica preservada, com uma beleza e arquitectura singulares.

Na verdade, as características arquitectónicas do património que a define, a combinação do xisto, com granito amarelo e ardósia, e a paisagem agrícola e florestal que a envolve, quando “descobertas” pelas gentes urbanas das proximidades, conduzirão a uma fervorosa procura por este local.

A preservação da arquitectura do edificado de Quintandona, bem como a requalificação dos espaços, deve-se ao empenho da Câmara Municipal de Penafiel, com a colaboração da Junta de Freguesia de Lagares e dos habitantes de Quintandona, através de um projecto apresentado pela ADER-SOUSA, no âmbito da sub-acção 7.1 da Medida AGRIS, restituindo à aldeia todo o encanto de outrora.

O actual lugar de Quintandona tem à volta de 64 habitantes com uma média de idades de 34 anos. Tem-se notado nos últimos tempos uma forte procura de casas e terrenos para compra e uma maior fixação de casais jovens neste lugar. Muitas gentes que visitam Quintandona começam a procurar um espaço para Turismo Rural e uma busca pelos sabores e tradições desta Aldeia.»

Continua…

12-10-2008 Aldeia de Quintandona (2)

Freguesia de Lagares - Penafiel
Vale do Sousa


Castro do Monte Mozinho

Porque era também nosso propósito, no final deste agradável passeio pela Aldeia de Quintandona, deslocamo-nos 8 km deste local até à Freguesia de Oldrões (Galegos) – Penafiel, a fim de conhecermos fisicamente a “Cidade Morta”, tal como é conhecido o Castro do Monte Mozinho, importante conjunto de vestígios arqueológicos romanos.

«Povoado castrejo de época romana, fundado no século I d.C. mas com uma ampla cronologia de ocupação, que chega mesmo a atingir o século V.

Fortificado com duas linhas de muralhas, o castro possui uma extensa área habitada, com cerca de 22 hectares, e apresenta diversas reformulações urbanísticas, sendo possível observar vários tipos de construção, desde núcleos de casas-pátio de tradição castreja, com compartimentos circulares e vestíbulo, às complexas habitações romanas de planta quadrada ou rectangular.

Na parte superior do castro destaca-se a muralha do século I, cuja entrada era flanqueada por dois torreões onde se encontravam duas estátuas de guerreiros galaicos, actualmente no Museu Municipal.

O topo do castro é coroado pela acrópole, delimitada por um espesso muro e estéril em construções interiores. Aí se desenrolariam actividades várias, como jogos, assembleias, mercado, etc.

As escavações no castro de Monte Mozinho tiveram início em 1943, retomadas em 1974, e desde então não mais pararam, podendo o espólio ser visto no Museu Municipal de Penafiel.» Classificação: I.I.P., Decreto N.º 37077, de 29 de Setembro de 1948
Texto: C.M.Penafiel

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12-10-2008 Aldeia de Quintandona (3)

Freguesia de Lagares - Penafiel
Vale do Sousa


Notas da “Caramulinha”


Esta bela e simpática Aldeia, muito bem recuperada e preservada, distando apenas cerca de 30 km do Porto, tem sido ao longo dos últimos anos visitada não só por turistas anónimos ou amantes da Natureza mas, também por figuras ilustres da nossa sociedade, como foi, por exemplo a visita a 22 de Fevereiro deste ano, de Sua Excelência o Sr. Presidente da Republica, Dr. Aníbal Cavaco Silva, que também se deixou render aos encantos desta maravilhosa Aldeia.

Gastronomia / Usos e Costumes
Um prato típico da Aldeia e sobejamente conhecido pelas gentes da região, é o “Caldo de Quintandona”, confeccionado durante os dias da “Festa do Caldo”(grande demonstração da gastronomia local) que serve de mote para dar a conhecer esta singular localidade do Vale do Sousa, juntamente com actividades desportivas e culturais, nomeadamente o teatro, o artesanato ou os usos e costumes da Aldeia.
Aguardamos uma oportunidade para podermos estar presentes e provar esse famoso caldo que… “desenfeitiça as pessoas” – segundo diz o Grupo de Teatro «comoDEantes».

Caminhada


Ainda com algum tempo neste dia esplendoroso de Sol, efectuamos uma curta caminhada de 4 km (ida e volta) até Lagares, pelo Monte do Alto de Lagares.
Mas, quem quiser pode optar ir mais longe, por exemplo, até ao Parque de Merendas de Capela, por caminhos rurais e estrada, contornando as margens da Ribeira dos Moinhos.

Almoço


Após estas agradáveis visitas, havia que recuperar algumas energias despendidas.
Seguindo pela EN15, deslocamo-nos até Baltar, concretamente ao Restaurante Chalé, situado na Rua Central da Vandoma, ali naquele recanto do lado descendente de Baltar.
Fomos muito bem servidos. A agradável “perna de porco” assada, que acompanhamos com o suave e apetecível vinho da casa “Chalé”. A simpatia do Gerente, Sr. Manuel Monteiro e seus Colaboradores, faz-nos sentir como em casa.
Para conhecerem as especialidades deste restaurante, visitem o site: http://www.chalerestaurante.pt.vu/
Para ti, Sérgio Silva, sabe que o Grupo “Caramulinha” te deseja as Maiores Felicidades pessoais e profissionais.




Beijinhos para Todos.

A “Caramulinha” reparte assim com vocês estes momentos bem passados!

domingo, 23 de novembro de 2008

A lição do Melro



Oiço todos os dias,
De manhãzinha,
Um bonito poema
Cantado por um melro
Madrugador.

Um poema de Amor
Singelo e desprendido
Que me deixa no ouvido
Envergonhado
A lição virginal
Do Natural,
Que é sempre o mesmo e variado!

Poema de Miguel Torga

domingo, 16 de novembro de 2008

27-09-2008 PR Trilho do Corgo (1)

(Alvações / Lobrigos) 11 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião

Olá

Este foi o percurso que escolhemos para nesta altura virmos percorrer.

Intitulamos como o nosso “Trilho das Vindimas”referente a este ano de 2008.
Toda a paisagem envolvente que nele se insere é “imaculada” e pode ser percorrido em qualquer época do ano. Só que, em Setembro, há outra componente que todos os anos acontece e nos transmite outra sensação mais profunda, mais humana e espectacular: as vindimas.

Leiam, por favor, esta descrição real e poética, sobre o trilho, que nos elucida sobre toda a beleza desta próspera região vinhateira:

«O Trilho do Corgo proporciona-nos uma viagem pela relação entre o homem e a natureza. Ao longo de todo o trajecto é possível admirar o resultado do labor que ao longo de séculos foi moldando o chão duro de rocha e dele fez brotar vinho. Impressiona a dimensão quase inimaginável desse esforço secular, quando se aprecia a espantosa paisagem transformada em riscas que mais parecem as curvas de nível de um mapa em que Deus se esforçou plenamente na criação de beleza e harmonia entre o homem e a natureza. Nas ondulações de verde primaveril e de oiro outonal, nos declives acentuados, por entre o avolumar das encostas íngremes, esgueira-se o Corgo, rio furtivo, tímido e quase envergonhado da sua imensa beleza. Nas margens estreitas, aqui e ali mais largas e atapetadas de erva verde, a sombra dos amieiros, freixos e salgueiros convida a uma sesta em dias quentes.Dos pontos mais altos vislumbra-se o infinito, por onde se perdem os cumes e as terras distante. Nalguns destes pontos erguem-se capelas que podem ser avistadas desde muito longe a testemunhar o milagre da transmutação da paisagem. Mas elas proporcionam também vistas de encantar para as povoações próximas e distantes, principalmente para o Peso da Régua, ali nas margens do Douro. Este trilho conduz até uma delas. De lá, consegue-se uma visão hemisférica e vê-se as habitações a pontuar de branco a verde paisagem. As casas perfilam-se nas encostas desafiando a gravidade e são, geralmente, alvas. As ruas estreitas convidam ao sussurro da alma, mas o povo é alegre, comunicativo e muito simpático.

“Terra de boa gente e terra farta”, disse um dos seus habitantes.
E disse a verdade.»
Texto: Folheto informativo C. M. Santa Marta Penaguião

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27-09-2008 PR Trilho do Corgo (2)

(Alvações / Lobrigos) 11 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião


Fotos do Percurso (A)










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27-09-2008 PR Trilho do Corgo (3)

(Alvações / Lobrigos) 11 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião


Fotos do Percurso (B)








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27-09-2008 PR Trilho do Corgo (4)

(Alvações / Lobrigos) 11 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião

Notas da Caramulinha (A)

1) Sensivelmente a meio do percurso e depois de algum descanso contemplamos toda a paisagem infinita ao redor da Ermida de S. Pedro (S. João de Lobrigos), onde nos encontrávamos a uma altitude de 442 metros do nível do mar.

O trilho prossegue pelos caminhos que ladeiam os vinhedos do espaço duma quinta, respirando-se um perfume embriagador de dourados cachos que pendem das castas, qual exercito de milhões, estaticamente esbeltos. Verificávamos que nalguns socalcos ainda estava tudo por vindimar, mas não vimos, ao contrário de outros locais que fomos passando, nem viaturas, nem ninguém no interior deste espaço.
Sempre a descer para Vila Maior, num ápice chega-se a um portão e para nosso espanto, este encontra-se fechado com cadeado e a loquete.
Mas, então? Este não é um Percurso Pedestre sinalizado e homologado pelas Entidades competentes, nomeadamente a Câmara Municipal de Santa Marta e a FCMP ?! – dissemos nós.
Naquele momento ocorreu-nos palavras que ao longo da semana ouvimos e lemos, relativamente a algumas iniciativas para os dias 27 e 28, referentes ao Dia Mundial do Turismo:

«ALTO DOURO VINHATEIRO
Abrem-se as portas no Douro!
Venham visitar as Quintas, as Caves e as Adegas e provar “gratuitamente” o genuíno Vinho do Porto!
Queremos promover este momento marcante desta região: as Vindimas!»

E nós, ali naquele lugar, incrédulos, só nos restou contornar o portão e do muro de dois metros descemos a escorregar por um poste de betão, fazendo alguns arranhões no braço.
Para as pessoas que naquela altura ali passavam, por Vila Maior, e nos viram fechados e a saltar de um muro, com certeza chegamos a parecer “aqueles” que invadem propriedades alheias com fins condenáveis.
Deve ser uma cena já repetitiva aos olhares destas gentes, pois ninguém nos fez qualquer observação, limitando-se a olhar.

Já do lado de fora, a sinalética indica a continuação do Trilho do Corgo, agora na direcção da Igreja de Vila Maior.
Será esta uma situação normal?

2) Jamais nos iremos esquecer daquele momento quando, próximo da Linha Ferroviária do Corgo, avistamos o Sr. Venâncio, que vindimava as suas uvas.
Ele nem tem quintas. Apenas aquela pequena ramada do quintal.

Ao ver-nos e após uma breve troca de palavras que nos identificamos (dissemos que andávamos a caminhar por estas deslumbrantes terras), com a tesoura cortou cachos e disse-nos:
- Tomem lá pró caminho.
Que momento incrível! Que simpatia e simplicidade!
Obrigada, Sr. Venâncio, pela lição que dá ao egoísmo!
Beijinhos e Saúde. Muitas Felicidades!
Quanto ao “Abrem-se as portas no Douro”, oxalá muita gente tenha aderido ao convite e tenham saído das Quintas satisfeitos e maravilhados com estas paisagens inigualáveis.

Continua…

27-09-2008 PR Trilho do Corgo (5)

(Alvações / Lobrigos) 11 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião


Notas da Caramulinha (B)

O nosso entusiasmo e encanto por esta região, o “Alto Douro Vinhateiro” PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE, é tal que nos levou a efectuar uma pesquisa literária um pouco diversificada, com textos que narram as “Fénix” deste paraíso vinícola, a “casta, os montes, os rios e as gentes” (que iremos descrever mais pormenorizadamente num próximo post), bem como um resumo do romance de Camilo Castelo Branco, “A BRASILEIRA DE PRAZINS”, onde Camilo eterniza Alvações do Corgo.
Todavia, queremos já hoje evidenciar uma figura “ilustre” desta região, o Padre Mestre Dr. Frei João de Mansilha, natural de S. Miguel de Lobrigos.
Foi um dos fundadores da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, juntamente com o Dr. Luís Beleza de Andrade e o espanhol biscaínho D. Bartholomeu Pancorbo, dando seguimento às regras impostas por Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e ministro do Rei D. José, criador da 1ª Região Vinícola “Demarcada” do Mundo!

Castas que se cultivam em Portugal

O termo casta tem a sua origem no latim, significando pura, sem misturas, e o seu significado é: característica comum de um conjunto de videiras, provenientes de uma ou de várias plantas morfologicamente semelhantes, existindo castas autorizadas e recomendadas nas regiões demarcadas. A mesma casta em solos e climas diferentes origina vinhos diferenciados, embora algumas componentes aromáticas próprias da casta se mantenham. As castas estão classificadas em brancas, tintas e rosadas, em função da cor da sua película.

Texto: (resumo) LusoWine

À parte do 1º pormenor que descrevemos e que deve ser corrigido (por exemplo: uma pequena porta inserida no mesmo portão mas, que deixe passar os Caminheiros um de cada vez e que após a passagem volta-se a fechar com um trinco), damos os parabéns à Câmara de Santa Marta de Penaguião por, tal como outros Municípios do País e que aqui já temos evidenciado, teve a coragem em apostar numa Rede de Percursos Pedestres muito belos e devidamente sinalizados.
Pela nossa parte, desejamos que o projecto venha a ser um êxito e traga muitos Turistas e Amantes do Pedestrianismo às terras deste Concelho e fiquem, tal como nós, rendidos e apaixonados com tanta beleza!

Muito Obrigada.
A “Caramulinha” agradece!

Continua…

27-09-2008 PR Trilho do Corgo (6)

(Alvações / Lobrigos) 11 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião


A Brasileira de Prazins
(curto resumo)

Quem já leu este espectacular romance de Camilo Castelo Branco, encontra algumas páginas alusivas a estas Aldeias que hoje percorremos, concretamente numa das partes que mais gostamos, quando Camilo descreve o personagem “Veríssimo”, o tal que se fez passar por D. Miguel e que graças às semelhanças com o “Príncipe Absolutista” ludibriou muita gente…

«…Em 1827, o Veríssimo estudava em Coimbra humanidades para seguir a jurisprudência. Era bom estudante, aplicado e sério. Era um bonito homem, rosto oval, olhos de rara beleza, nariz ligeiramente aquilino. Diziam-lhe que era o vivo retrato de D. Miguel, aperfeiçoado pelo desaire de coxear.

(…)Depois da convenção, Veríssimo Borges recolheu a Alvações do Corgo, onde encontrou o pai num grande abatimento de tristeza e de recursos. A sua lavoura de vinho era pequena. Privado do ofício e malquisto como ladrão, o representante de Lopo Rodrigues socorria-se à beneficência de uma irmã, a Dª. Águeda, viúva de um major de milícias que morrera no ataque ao forte das Antas. O convencionado, naquela estreiteza de meios, quis voltar à fileira; mas o pai negou-lhe a licença, arguindo-lhe a baixeza de sentimentos, em querer servir o usurpador, e citava-lhe as cortes de Lamego.
O Veríssimo, argumentando contra estas cortes, alegava que antes queria encontrar na casa de seu pai, em vez das velhas instituições de Lamego, os modernos presuntos da mesma cidade.
A tia Águeda, a viúva do major, tinha pouco. Desde 1828 até 1833 gastara seis mil cruzados em festejar os natalícios e as vitórias do Sr. D. Miguel com banquetes e iluminações que duravam três noites, num delírio de bombas reais e foguetes de lágrimas, com adega franca. Mandava cantar Te-Deum na igreja de Alvações assim que no “país vinhateiro” soava a notícia de alguma vitória do exército fiel.

Ora, os realistas, a contar por cada Te-Deum de Alvações, entravam no Porto às quinzenas para saírem por uma barreira e voltarem logo pela outra.
Dª. Águeda começava a desconfiar que o Deus de Afonso Henriques voltara a casaca.
Restava-lhe pouco; mas não queria que o Veríssimo se fizesse malhado. Sacrificou-se à honra da família, levou-o para casa, deu-lhe mesa farta, e consentiu que o vadio se mantivesse regaladamente, de papo acima, tocando flauta, a trasfegar em si o resto da garrafeira. Aconselharam-na que ordenasse o sobrinho, visto que ele já tinha exames de latim e lógica. O Veríssimo disse que sim, que queria ser padre. Tinha-se esclarecido nos encargos do ofício, observando a vida sossegada e farta dos párocos.
Um seu parente, o abade de Lobrigos, tinha liteira, parelha de machos, matilha de cães e hóspedes na sua residência episcopal. Outros, com menos rendas, eram ainda invejáveis; um viver espapaçado em doce moleza, inofensiva, com grande estupidez irresponsável, um regalado epicurismo. Veríssimo achou que, se não pudesse ser bom padre, havia de pertencer à maioria; e, se desse escândalo, um de mais ou de menos não perturbaria a ordem das coisas. Os seus amigos e parentes abundavam no dilema.
D. Águeda fazia concessões à fragilidade do clero; – que seu sexto avô também fora bispo e pai de sua quinta avó, por Camelos. O parente abade de Lobrigos, em confirmação das pré - claras linhagens de coitos sacrílegos, afirmava que a sereníssima casa de Bragança descendia de padres pelo pai de D. Nuno Alvares Pereira, que era prior do Crato, e pelo avô, o padre Gonçalo, que fora arcebispo de Braga; e que os condes de Vimioso e Atalaia, e todos os Noronhas, oriundos de certo arcebispo muito devasso de Lisboa, e muitas outras famílias da corte descendiam de prelados.

Estas genealogias orientavam o Veríssimo no futuro do sacerdócio. Queria ser abade, ressalvando tacitamente certas condições a respeito dos rebanhos e particularmente das ovelhas. O Norberto morreu por esse tempo de uma congestão cerebral; alguém diz que o esganaram na cama dois malhados de Lobrigos contra os quais ele tinha jurado em 28. Dª. Águeda recebeu o sobrinho carinhosamente. A herança do pai estava empenhada; foi à praça; sobejaram uns novecentos mil-réis e a casa com as armas, pagas as dívidas.

O Nunes dizia-lhe da Póvoa que andava por lá miserável, um piranga, na gandaia; que o pai dava-lhe um caldo de feijões e o tratava como um cão vadio. Que, depois da partida do Algarve, não tinha com quem praticar em Braga para solicitador, nem tinha que vestir. O Veríssimo chamou-o para Alvações com generosidade. Vestiu-o, e dava-lhe meios para ele poder estudar em Vila Real, com advogados miguelistas, que o estimavam muito.
No Inverno de 1840, Dª. Águeda morreu de uma indigestão de castanhas, complicada com enterite crónica e saudades da realeza. Deixou ao sobrinho a casa, as vinhas muito delapidadas; e o retrato do Sr. D. Miguel às freiras de Santa Clara de Vila Real e mais dez moedas de ouro com a condição de lhe acenderem quatro velas de cera no dia dos anos de Sua Majestade.
Veríssimo viveu então largamente. Fez-se chefe de partido nas redondezas de Alvações do Corgo, onde era conhecido pelo capitão Veríssimo. Deitou cavalo e mochila; jogou rijo dois anos na Feira de Santo António, em Vila Real, e perdeu tudo. O Nunes, que já solicitava causas na Póvoa, repartia com ele dos seus proventos muito escassos, porque o juiz e os escrivães faziam-lhe guerra implacável, e as partes fugiam dele.

O Veríssimo saiu de Alvações, onde não possuía palmo de terra; e, como tinha boa forma de letra, ofereceu-se para amanuense a um tabelião de Alijó. Ganhava três tostões por dia e jantar. Como era boa figura, a mulher do tabelião, uma trigueira de má casta, entrou a compará-lo com o marido, que tinha os dentes muito lurados e os olhos tortos. Mas o tabelião viu as coisas pelo direito, e pôs o amanuense na rua, e a mulher em lençóis de vinho…»

Até Breve.