sábado, 16 de agosto de 2008

19-07-2008 Mixões da Serra (1)



É já a terceira vez que visitamos Mixões da Serra, esse lugar sereno pertencente ao Concelho de Vila Verde, “divinalmente” encaixado na encosta das montanhas que emergem dos Vales sobranceiros ao Rio Homem, onde ainda pastam, semi-selvagens, rebanhos de gado caprino, ovino, bovinos de raça barrosã e os típicos garranos.

A primeira vez foi a 27 de Agosto de 2005.
Nesse dia, logo pela manhã, paramos para tomar o pequeno almoço em Vila Verde e perguntamos qual o caminho para Mixões, esse local “místico” onde todos os anos se realiza a BENÇÃO DOS ANIMAIS, que ouvimos falar mas não conhecíamos.
Olhe, o Padre da Freguesia está ali na mesa a tomar café, disse alguém do balcão.
Dirigimo-nos à mesa, cumprimentamo-lo e apresentamo-nos como simples turistas do Porto à descoberta do que é belo em Portugal.
Explicou-nos o caminho e despedimo-nos com amizade, agradecendo a simpatia.

Paramos inicialmente em Coucieiro, visitando a Igreja Românica.
Alguns quilómetros adiante, surge Valdreu e para nosso espanto, o Padre António Pereira Marques, guia Espiritual destas Freguesias, acreditando nas palavras que dissemos no café, já se encontrava no Lugar do Mosteiro, à entrada da casa do Pároco, junto à Igreja Matriz.

Foi nosso guia, relatando algumas empreitadas das obras de restauro que o monumento foi alvo, discordando de alguns pormenores que, a seu ver, os restauros não estavam a seguir conforme inicialmente planeou e ordenou, fugindo do seu estilo românico primitivo, e por conseguinte adulterado, dando como exemplos mais gritantes a parte superior do pórtico e a rosácea.

Este sacerdote que nos pareceu prático e sociável, falou-nos da Romaria que todos os anos no Domingo anterior ao dia 13 de Junho, se realiza no alto de Mixões de Cima, mais conhecido por Mixões da Serra, a popular e já tradicional Bênção dos Animais.

Embriagamo-nos na leitura de um livro da sua autoria sobre esta grandiosa Festa do Povo, já com tradição muito antiga.
O “PREFÁCIO” é deveras original e encantador:

Para te escrever “Bênção dos Animais”, cara Fénix renascida
Resolvi contigo nos claustros do convento pernoitar
Em silêncio pensativo e amortalhado…
Fazendo espuma, o mar da vida agitada!
Á medida heróica do valente soldado
Com a espada brandir os ventos da guerra e incredulidade
Iniciando o caudal de um enorme rio
O destino certo da Terra Prometida.

Despedimo-nos com gratidão, prometendo no ano seguinte regressar, desta feita no dia da Bênção dos Animais, deixando a viatura nas imediações de Valdreu e caminhando pela encosta da Serra até ao Santuário, se possível acompanhando alguns lavradores e romeiros conduzindo os seus animais para serem benzidos, o que viria a acontecer.
Aliás, o Padre Marques, durante o sermão na Missa campal de 2006, impressionou-nos com mais uma faceta positiva da sua personalidade, ouvindo-o dirigir-se com fascínio ao Povo, uma voz suave e emotiva. É fascinante ouvi-lo, falando de Santo António de Mixões, das pessoas e seus costumes, dos animais, de Deus!

Chegamos ao alto do monte e surge-nos, imponente, o lugar e o Santuário “místicos”, naquele dia desprovidos de gentes e animais mas, essa aparência bucólica arrepiou-me a pele de emoção, ao pensar, como seria, dali a um ano, a nossa despercebida presença entre milhares de turistas e nomeadamente de fiéis com os seus animais.

Neste lugar, antes da construção deste Santuário (1916/1924) existiu uma primitiva Capela, que o Povo ergueu em louvor de S.to António, como agradecimento e cumprimento de promessa, se o Santo defendesse os seus animais das terríveis pestes que dizimavam os rebanhos e do ataque desse misterioso predador, o lobo ibérico, que noutros tempos vagueava em alcateias e proliferava por estas serras.

Continua...

1 comentário:

Anónimo disse...

Li agora uma mensagem colocada no texto sobre o Românico, no caso de Felgueiras (um post de Maio) e curiosamente sei algo sobre aquela igreja, que depois foi substituída por outra. Aliás eu fui o autor do artigo referido, publicado no jornal Semanário de Felgueiras, há alguns anos. Antes mesmo a antiga igreja de S. Cristóvão de Lordelo já em tempos foi referida pelo Dr. Pedro Vitorino no boletim do Douro Litoral, já clamando por sua salvação nos idos de 40 e tal, do séc. XX. Agora questiona-se, com tanta pompa oficial sobre a tal rota do Românico do Vale do Sousa, para tapar olhos: Como pode estar a situação ainda pior, em pleno séc. XXI?