domingo, 11 de maio de 2008

A Quinta da Conceição ( 1 )

Leça da Palmeira – Matosinhos

No passado mês de Abril li uma notícia sobre um vasto programa para obras de requalificação no Concelho de Matosinhos que a Autarquia irá levar a cabo e saltou-me logo à vista o texto no que dizia respeito à Quinta da Conceição, onde se prevê gastar 356 mil euros na requalificação do Parque, tendo já lançado o Concurso Público para este fim, e um outro para entregar a gestão da Quinta a um privado, que ficará com os direitos de exploração comercial.
A Autarquia receberá 1,39 milhões de euros pela sua concessão.
Como é obvio, as portas irão ser fechadas e vedado o acesso gratuito ao Público.
Também já soube que existe uma petição on-line direccionada à Câmara de Matosinhos, intitulada: “Quinta da Conceição, um espaço Público de todos!”
Ao contrário da opinião de muita gente, numa votação pela Internet que decorre desde Fevereiro, para eleger as “ 7 maravilhas do Concelho de Matosinhos” a Quinta da Conceição foi esquecida, mas para mim será sempre a que encabeça a lista.

É o espaço mais natural, mais romântico e bucólico de Leça da Palmeira, Matosinhos.
Como diria o “outro”, eu já fui muito feliz naquele pequeno paraíso. Quando me lembra aquele sabor que tinham os beijos, os abraços, as mãos dadas, pelos caminhos daquela frondosa mata e belos jardins…pela piscina, onde as crianças brincam e se relaxa aquele fim de semana ou dia de folga.
Então, de tanta vez ter percorrido aquele “divino” espaço, onde outrora existiu um Convento de Frades, quis saber mais da sua história remota que o tempo apagou e lancei-me numa pesquisa literária onde pudesse elucidar-me melhor.
A narração mais espectacular que encontrei, vem testemunhado num livro de Camilo Castelo Branco, que sabiamente descreve aquele dia que, tal como eu, quis vir conhecer pessoalmente este local.
Ainda na província transmontana ele ouvira dizer «…ficar próximo à foz do Lethes… », esse rio da saudade que os poetas eternizaram para sempre!
À mais de um século, Camilo veio acompanhado de cicerone e narra assim aquele espaço inopinado e deitado ao abandono da sociedade, que encontrou e o deixou «amargurado e triste, naquela solidão…»

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco


O Mosteiro de Lessa

« À Ponte de Lessa, acha Vª Ex.ª uns barquinhos que o levam rio acima até à cerca do Convento. Aproe ali onde os salgueiros saem a recebê-lo sob um pavilhão de ramas.

Suba por essa vereda pedregosa e ladeada de sobreiros e carvalhos sem folhas, sem frondes, sem casca, mortos, ou vivos o necessário para que saiba que o sucessor dos Frades no senhorio da mata é um sujeito que esgalha árvores para lenha, e as esfola para vender a casca aos tintureiros e artífices de rolhas. Quanto à bolota, a que não pode vender come-a, ou vende a que não pode comer.
Vá subindo rente e ao longo desta parede que separa o bravio das hortas e pomares.
Aqui tem uma porta. Entre, que o Convento da Conceição deve estar aqui dentro.
- Mas esta portaria de padieira lisa com portadas vermelhas e uma aldraba de cabeça de javali é porta indicativa de Convento Franciscano?
- Não, senhor. A porta que esteve aqui, está hoje na Quinta do Senhor Conselheiro Anthero Albano, em S. Paio alem Douro, defronte de Sovereiras. Comprou-a por quatro moedas. Era de um belo rendilhado das portadas Manuelinas daquele tempo. Aqueles relevos, bem que modestos, e arabescos desprimorosos, tinham que ver.

Por baixo daquele arco passou…
Não antecipemos…»

Continua…

Compilado pela “Caramulinha”

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