quarta-feira, 16 de julho de 2008

21-06-2008 PR5 Terras de Bouro (1)

Trilho Águia do Sarilhão – 9 km / circular
Rede de Percursos Pedestres
“Na senda de Miguel Torga”

Olá, Companheiros (as)

«Meu espírito caminha
Em uma eterna busca
De um encontro pleno…»

Estas palavras de Teotónio Roque foram o mote para finalmente virmos percorrer o “Trilho da Águia do Sarilhão”, na Freguesia de Campo do Gerês, com o propósito de no final da caminhada após o piquenique, fazermos uma visita (já há algum tempo adiada) ao Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna.
Depois, se tudo corresse bem, irmos divertir-nos num agradável passeio de charrete.

A Caminhada
Pelas 09.30 horas deste dia esplêndido de sol e algum calor em pleno místico Vale do Rio Homem, demos início à caminhada, partindo da “Porta de Campo do Gerês” Freguesia de Terras de Bouro. Fomos calcorreando pelo asfalto até a um lugar conhecido por Leira dos Padrões, e deparamos no jardim de uma habitação com um Marco Miliário da Geira, concretamente a assinalar a Milha XXVIII, cujo painel elucida os Caminheiros da situação geográfica local.
Diz assim:
« A milha XXVIII situa-se na Leira dos Padrões, a oeste de S. João do Campo, a uma altitude de 630 metros. Os miliários relacionados com esta milha têm sido encontrados em pontos dispersos, o que é normal considerando que o caminho atravessa uma área cultivada, dividida em numerosas parcelas. O local exacto da milha poderá ser o topónimo Leira dos Padrões, na Veiga de S. João.
No conjunto, em relação com esta milha, foram registados 9 marcos. Destes sabe-se, pelas referências bibliográficas do século XVIII, que dois foram destruídos a fim de serem utilizados na construção da igreja setecentista. De outros três não se sabe o paradeiro. Um deles, de acordo com José Matos Ferreira era consagrado ao imperador Magnêncio (350-353), sem indicação da milha. Outro a Constâncio (292-306), tendo sido encontrado junto às ruínas do antigo templo de S. João do Campo, também este sem indicação da milha. No terceiro apenas se lia o registo da milha: XXVIII. Junto à estrada municipal observa-se um outro marco, citado pela primeira vez por Matos Ferreira, e cuja epígrafe, embora legível, é pouco explícita.
Amaro Carvalho da Silva divulgou, em primeira-mão, outros três. Um deles, de acordo com aquele autor conserva-se na parede exterior de uma casa de S. João de Campo. Apenas se lê a indicação da milha XXVIII.

O outro apareceu em 1945 numa leira, tendo sido colocado num muro de socalco. Mais tarde, em 1982, quando, na mesma leira, foi erguida uma vivenda, o marco foi colocado a 25 metros do local do achado, no quintal, onde ainda hoje se pode observar. A inscrição deste marco, segundo a leitura de A. M. Silva, refere-se ao imperador Caro (282-283). Um terceiro, anepígrafe, jaz numa parede de uma corte de gado em S. João de Campo.»

Deixando a povoação, segue-se por um caminho contíguo ao Parque de Campismo de Cerdeira, um dos mais belos da Europa onde já estivemos acampados noutra ocasião, e subindo um pouquinho junto à margem direita do Ribeiro de Rodas, que ali ao lado sussurra nos pequenos declives entre penedos que vai transpondo, escondido entre a vegetação, surge-nos bem lá no alto a Fraga do Sarilhão, altiva e imponente.

Descemos pela vertente escarpada alguns metros a céu aberto com apoio nos corrimões de madeira, ao longo de Redondelo e Sarilhão, mas a alta vegetação arbustiva do caminho esconde por momentos a luz solar, que o contorna em descendente algo escorregadio, tornando-se bucólico.

Chegando à estrada da Mata da Albergaria, perto da Bouça da Mó, vira-se à esquerda e logo à frente avista-se a sinalética metálica da Geira e deve descer-se um escarpado carreiro com corrimões para amparo de quem desce o declive que irá levar em direcção à Bouça do Gavião, nos Padrões da Cale, ao troço da Geira Romana ou Via Nova, até ao cruzamento para a Barragem e Covide em pleno Vale de Vilarinho da Furna.

Tendo já percorrido este troço da Via Romana XVIII, do Itinerário de Antonino, na caminhada que fizemos desde S. João do Campo até Lobios, onde percorremos estas Milhas XXVIII e XXIX, (quem nunca percorreu este caminho deve fazê-lo, pois só na Milha XXIX pode ver-se um conjunto de treze Miliários que não deve perder de visitar) resolvemos hoje prosseguir pela estrada de terra batida e cá de cima admirar as calmas e espelhadas de azul águas do Rio Homem, represado na Albufeira de Vilarinho da Furna.

Ao fundo vemos o trajecto da Geira que hoje não percorremos. Do lado oposto sobressaem as montanhas da Serra Amarela. É uma paisagem de cortar a respiração!

Chegados à Barragem, foi tempo para repousar um pouco, meditando naquele fantástico poema de Miguel Torga, “Requiem” na sua homenagem às gentes e à Aldeia comunitária de Vilarinho da Furna, submersa pelas águas do Rio Homem ali travado:

Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavradas,
Aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um “letes” de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.

No regresso da Barragem, flectimos à direita por um caminho em ascendente que vai levar até à Aldeia de S. João do Campo, sobranceira à Veiga.

Passamos pelas casas dos habitantes locais e de Turismo Rural, de construção granítica, com suas varandas típicas em madeira, pela casa de acolhimento dos gatinhos, uma ideia excelente e os típicos pombais com rolas e pombos por cima dos galinheiros.

Chega-se ao miradouro próximo da Junta de Freguesia onde se desfruta de umas vistas deslumbrantes sobre as Capelas e o casario da Aldeia, as Chãs de cultivo e pastagens de garranos. Venham ver esta beleza!

Um pouco mais adiante embrenhamo-nos no troço da Geira, muito coberta pela vegetação, próximo à Pousada da Juventude, tendo ao nosso lado a verdejante Veiga de S. João, que nos conduzirá até à Ponte de Eixões ou Ponte de Rodas, lançada sobre este rio que atravessa a Freguesia de Campo. Terá sido construída entre a Idade Média e a Idade Moderna, quiçá sobre fundações de uma mais antiga da era Romana. Será, então, uma Ponte Romano/Medieval?

A sua edificação neste local, estará relacionada com uma eventual alteração do traçado da Geira. É uma estrutura de perfil em arco, sobre dois arcos de volta redonda, com pedra provavelmente aproveitada do período Romano. Depois de a contemplarmos prosseguimos os metros finais e logo acima se avista o Museu Etnográfico, onde demos por terminado este agradável e belo percurso.


Continua...

Sem comentários: