quinta-feira, 31 de julho de 2008

12-07-2008 PR8 Terras de Bouro (1)

Trilho do Couto do Souto – 10km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
“Na senda de Miguel Torga”

Olá, Amiguinhos

Cá estamos de regresso à “Rainha das Serras”, encantadora Serra do Gerês, com a sua enorme beleza que nos embriaga e revitaliza o corpo e o espírito.
Este agradável percurso histórico e cultural, desenrola-se nas encostas montanhosas a sudeste do Vale do Rio Homem e percorre alguns lugares puramente rurais de duas Freguesias: Souto e Ribeira.
Chega-se pela EN205-3 e após passar Sequeiros, logo à frente surge Souto.

Souto foi entre os anos de 1254 e 1836, por foral de D. Afonso III, Vila gerida administrativamente independente, com seu próprio Couto e Julgado, onde ainda hoje podemos ver construções edificadas daquele tempo, sobressaindo a Igreja, recentemente recuperada, e as artísticas cruzes graníticas da Via Sacra.

A placa indicadora do trilho fica no cruzamento à face da estrada mas, deve seguir e virar á direita para o interior da Freguesia e estacionar próximo à Igreja Matriz, junto ao Lugar do Paço e daí iniciar o percurso descendo até à EN que vai atravessar (muito cuidado!) e caminhar por estradão e carreiros rurais em direcção ao Rio Homem, na Ponte que liga a Freguesia de Souto, Concelho de Terras de Bouro, a Valbom S. Pedro, pertencente ao Concelho de Vila Verde.

Ali ao lado seguimos o carreiro para o Vau que vai levar à Praia Fluvial e Zona de Lazer.
Caminhamos todo o passadiço sobre o rio e admiramos este pequeno recanto bucólico com o açude e a velhinha azenha desprovida do seu peculiar engenho, que o tempo levou.
No regresso pelos campos verdejantes chegamos novamente à EN205-3 que mais uma vez atravessamos (com muito cuidado!) e dirigimo-nos para Ribeira.

Na subida de Leiredo, ao chegar ao miradouro do Cruzeiro, descansamos um pouquinho a contemplar aquela paisagem fantástica sobre o Vale do Rio Homem. Vamos ingerindo líquidos e fazendo curtas paragens, que o ascendente ainda está para durar.
Do nosso lado esquerdo vislumbra-se a Igreja Matriz de Ribeira.

Depois de passarmos a Capelinha da Sra. Do Socorro e Sr. Da Agonia, com singelo Altar, surgiu-nos na curva da estrada, a brincar na berma, três adoráveis crianças com quem estivemos à conversa: o Marco, o Sérgio e a Helena, que fazia raminhos com ervas. Lembrei-me das crianças de todo o Mundo e daquela mensagem que um dia Miguel Torga, esse poeta mítico por excelência, escreveu:

Pois eu gosto de crianças!
Já fui criança também…
Não me lembro de o ter sido;

Mas só ver reproduzido
O que fui, sabe-me bem.

É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal duma nascente,
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente.

Despedimo-nos dos três com beijos e prosseguimos a caminhada pelo caminho asfaltado sempre em ascendente até ao alto de Gogide.
Vamos contemplando a floresta e campos de cultivo, vislumbrando nas ramadas os verdes cachos a inchar e as típicas colmeias onde as abelhas produzem o excelente mel da Serra do Gerês. Enchemos as garrafas na fonte que jorra para o tanque e daí a nada já estávamos na estrada de terra batida, que embora diferente, é um caminho que nos é já familiar: a Geira Romana ou Via Militar XVIII do Itenerário de Antonino, aqui bem mais larga, por acção do homem moderno, que na altura das obras de alargamento para os acessos à Aldeia de S.ta Cruz, pôs a descoberto os Marcos Miliários que “balizavam” a Milha XIV, que tal como vem sendo costume, gosto de vos deixar aqui a descrição que ostenta o painel informativo:

«Esta milha situa-se pouco depois da portela montanhosa de Santa Cruz, na freguesia de Souto, onde se separam as águas dos rios Homem, para norte, e do Cávado, para sul. Os marcos relacionados com esta milha foram descobertos já no século XX, quando o antigo caminho de acesso à aldeia foi alargado com uma máquina.
Contam-se quatro marcos intactos e outros três fragmentos. Do conjunto cinco conservam a inscrição e outros dois são anepígrafes. A milha XIV é referida nesses cinco. No entanto, é apenas possível datar quatro. Um deles é de Tito e Domiciano (79-81), datável do ano 80; outro de Caracala (198-217), datável do ano 214; um terceiro de Décio (249-251), datável do ano 250; e o quarto de Magnêncio (350-353).
No quinto miliário, apesar de se reduzir a um fragmento, ainda se lê a inscrição a Bracara e a distância, sendo possível que tenha sido dedicado a Adriano.
Esta série de marcos conserva-se no local exacto onde foram encontrados, no lado direito da estrada, para quem caminha de Bracara para Asturica.
Do local da milha em diante grande parte do traçado da Geira encontra-se destruído numa extensão de 1462 metros por uma estrada de terra batida, a qual todavia coincide com o antigo percurso. Entre esta milha e a seguinte foi medida uma distância de 1633 metros.»

Conforme se pode ver na foto que tiramos, há um marco que foi recentemente desenterrado, perfazendo 8 Marcos Miliários.
Depois de admirar este local de grande simbologia histórica, com quase dois mil anos, visitamos a pacata e serena Aldeia de S.ta Cruz onde ainda se pode ver junto à restaurada e bem preservada Capela um Marco Miliário (ou fragmento) deslocado para este pátio calcetado de granito.

O gado autóctone deambula a seu belo prazer pela Geira e junto dos currais.
Retomado o Percurso, descemos por um estreito caminho bastante cerrado pelas silvas, ortigas e giestais que deixaram as pernas e braços um pouco a “arder”. É a Vida!

Caminhando por aquele bosque serenos e em silêncio, avistamos algumas aves de diversas cores, como o pintarroxo mas, a sensação mais profunda e emocionante foi ver passar ali a vinte metros à nossa frente aquele maravilhoso e ternurento “Felis Silvestres” o gato selvagem do Gerês que ao que parece veio a dar origem ao gato domestico que hoje temos nas nossas casas e tão agradável companhia nos fazem.
Por ser um momento inesperado e alguma atrapalhação nossa ao ligar a câmara fotográfica, ele deu um salto espectacular e em corrida desapareceu num ápice.
Para a próxima talvez se consiga aquela nossa …foto do ano!
Prosseguindo já na parte final descendente do percurso, passando pelos lugares de Sequeirô e S. Croio, por caminhos que ladeiam campos de cultivo, chegamos às habitações graníticas de Souto, percorrendo as ruas do centro da Freguesia e terminando este agradável e apaixonante Percurso Pedestre junto à Igreja Matriz.

O piquenique foi mais uma vez no Parque de Merendas junto aos pavilhões de amostra de artesanato da região, próximo à EN205-3, com fonte de água fresca de serventia.
Após este apetitoso momento, deslocamo-nos a Rendufe, já no Concelho de Amares, visitando esse imponente monumento Religioso e fomos relaxar as restantes horas desta quente e agradável tarde numa aprazível praia fluvial.

Continua...

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