sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

20-12-2008 PR1 V.P. Aguiar (2)

Trilho de Soutelo – 9km / Circular
Rede Municipal de Percursos de Vila Pouca de Aguiar

«Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar.»

Foi com este espírito contagiante das palavras do mestre Miguel Torga, que mais uma vez regressamos a Trás-os-Montes.
Viemos hoje percorrer o PR1 da Rede Municipal de Percursos Pedestres de Vila Pouca de Aguiar, ao longo das Aldeias de Soutelo de Aguiar, de Fontes e Castelo, pertencentes à Freguesia de Telões, com uma extensão de 9km em circulo.

Chega-se à cota máxima de 760m de altitude em relação ao nível do mar, no Alto da Aldeia de Fontes, bem de frente ao viaduto da auto-estrada A24.
Já em tempos efectuamos um agradável percurso antes de ser sinalizado e homologado, na Aldeia de Trêsminas – que é hoje o PR6, com cerca de 13km, onde se evidencia o Complexo Mineiro Romano.

Na primeira caminhada deste Inverno, e passados alguns anos, viemos agora descobrir esse lendário e histórico castelo roqueiro, conhecido por “ Castelo de Aguiar”, uma singular conjugação da natureza com o engenho humano, localizado nos contrafortes da Serra do Alvão, junto da aldeia de Castelo, na freguesia de Telões e classificado como Monumento Nacional desde 26 de Fevereiro de 1982.
Na sua passagem pelo Vale de Aguiar, Camilo Castelo Branco inspira-se neste outrora “Castelo do Pontido”, amontoado de graníticos fraguedos, referências agrestes e naturais mas, que lhe deram inspiração para os romances “O Santo da Montanha” e mais concretamente “O Esqueleto”, publicado em folhetins no jornal O Nacional, do Porto, em Julho de 1848.
Uma história macabra que se desenrola num clima de pesadelo, onde a jovem Amália é seduzida, esquecida, e, tendo engravidado, morre durante o parto. Segue-se a vingança levada a cabo pelo irmão, que esconde e preserva o cadáver de Amália, para mais tarde atrair o sedutor a sua casa e lançar-lhe nos braços o esqueleto da jovem, antes de o esfaquear mortalmente.

Camilo descreve:

« (…) Assomaram ao alto da Serra do Mesio, donde se avistava a magnifica chã do Vale de Aguiar, e o Castelo dos Almeidas, negrejando sobre um morro de rochas na quebrada das montanhas do Alvão.

- O meu castelo é além ! – disse Ricardo, apontando.
- É uma fortaleza feudal? – perguntou Margarida.
O fidalgo deu a data da fundação do Castelo, e contou a façanha de Duarte de Almeida, modelada pela inventiva com que ela anda cantada em verso no “Romanceiro Português” do Senhor Inácio Pizarro de Morais Sarmento.
A francesa parecia escutá-lo. (…) »
O Esqueleto (curto resumo) de Camilo Castelo Branco

Durante algumas centenas de metros, este trilho prossegue em simultâneo com a GR (Grande Rota) uma travessia com cerca de 54km pelo Distrito de Vila Real, ao longo de várias Freguesias, desde Afonsim até à sede deste Concelho, Vila Pouca de Aguiar.

Este foi um percurso com componentes históricas e paisagísticas, de grande e variada “Biologia”.
Muita diversidade botânica, com predominância para bosques de carvalhos e soutos de castanheiros.

Para além do gado ovino e bovino inglês a pastar nos lameiros, fazemos aqui um destaque para a linda parelha de vacas de raça outoctone portuguesa, "maronês", do Sr. João, que sendo cada vez mais rara, tem consequentemente maior valor.
Nesta componente zoológica, ficamos admirados com o evidente crescimento na criação de burros. (ver post nº3)
A Raça Asinina Portuguesa ainda há bem pouco tempo estava em vias de extinção!
Felizmente está-se a contrariar positivamente o declínio desse costume rural, outrora grande fonte de receita concretamente em Trás os Montes. Hoje as pessoas voltaram a criar burrinhos. Mesmo não sendo em escala para trabalhos rurais, já é normal ter-se burros como simples animal de estimação e mais concretamente para fins turísticos destas regiões.
Bem Hajam!

Notas finais:
Como já é normal neste blogue, não podemos esquecer de reconhecer o trabalho e dar os parabéns ao Município de Vila Pouca de Aguiar, por ter apostado já há alguns anos numa Rede de Percursos Pedestres. De igual modo, o apoio aos Municípios por parte da FCMP.
São investimentos desportivos e de laser para a região, bem como aposta de atracção turística que, julgamos já estar a dar os seus frutos, tal é evidente o crescimento deste Concelho.

No entanto e concretamente a este PR1, na subida da serra e antes de chegar ao cruzamento que entronca com o PR14 (Pontido), nalgumas partes o caminho está já bastante coberto por grandes giestais, dificultando a passagem aos Caminheiros. Sugere-se aí alguma limpeza, pelo menos cortar as enormes giestas.

De lamentar são os vestígios de algum “vandalismo” na sinalética do trilho, que concretamente num caso, pode ver-se o poste esfacelado por machado.
Por favor, conservem estes belos trilhos, que tanto custaram em dinheiro e trabalho, com a finalidade de estarem em qualquer altura do ano disponíveis a todos os amantes do Pedestrianismo.

A “Caramulinha” agradece!

Voltaremos breve!

Continua…

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