Ó vós que entrais, cansados, de olhos tristes,
Achando a Vida um mar sem ter bonança,
Enchei as vossas Almas de alegria,
Olhai, olhai p’ra mim, que eu sou a Esp’rança!...
Nos meus olhos de Luz não há os traços,
Da beleza vulgar d’uma mulher;
Mas erguei para mim os vossos braços,
Que eu dou Saúde e Vida a quem me quer!...
Virgínia Gersão
A todos a “Caramulinha” deixa aqui a sua singela homenagem.
Nesta localidade encontramos uma Calçada Romana, vestígios dum passado distante, que era uma de sete vias que os viandantes provenientes de Viseu podiam percorrer em direcção ao Litoral. Calcorreamos este pequeno troço de calçada, passando pelo Cruzeiro defronte ao Cemitério e visitamos a Igreja Matriz de Santa Maria de Guardão. Regressamos pelo Caminho das Cruzes, onde é usual fazer-se a Festa das Cruzes.
À chegada das primeiras cruzes, anunciadas pelo tocar do sino, saem da Igreja Matriz as cruzes de Guardão, dirigindo-se para o largo, junto do cruzeiro, de modo a receberem aí os primeiros cruciferários. À medida que vai chegando cada um dos cortejos, cumpre-se o ritual do “tocar das cruzes”, até que, no final se unem todas “como num abraço”. Este cerimonial que se realiza, segundo a população, há mais de mil anos, pretende recordar e homenagear o abraço dado pelos habitantes aos soldados que ali, um dia, lutaram contra os Mouros, expulsando-os, definitivamente, daquela região. »
Reparem nesta frase:
“No final as Cruzes todas se unem como num abraço”. Que lindo!
Alguns pequenos pilares graníticos gravados com o nome das Freguesias que aderem a estas Celebrações Religiosas, vão surgindo na beira do caminho que nos conduz até à Capela de S. Bartolomeu. Nestas imediações existem vestígios de um povoado de antiga civilização Castreja, “Castro de S. Bartolomeu” esse que não encontramos qualquer indicação para acedermos e podermos visitar. Talvez falta de informação?...
Conforme nos distanciamos da Vila, estes locais surgem mais isolados, tornando-se bucólicos, com mais serenidade e por onde não passa quase ninguém.
Daqui saídos, tomamos um caminho já com bastante vegetação que o esconde, onde correm águas próximo de tubagens ao ar livre, que retiram beleza ao local.
A Paisagem do Caramulo é de vistas magnificas e os seus recantos são surpreendentes.
Deste deslumbrante miradouro a 820 metros de altitude, avista-se grande parte do Vale de Besteiros e a paisagem envolvente é de rara beleza. È o local ideal para parar e descansar um pouco, ingerindo líquidos e se apetecer, alguns alimentos leves.
Seguindo um caminho entre a encosta da Serra, coberta de tojos, carquejas e alguma urze, e os campos ou chãs agrícolas, não avistamos qualquer cabeça de gado domestico, contrariando as previsões. Efeitos da decadência agrícola Nacional?
Aqui fica o apelo da “Caramulinha” para este facto negativo.
De seguida sobe-se serenamente e com os pulmões purificados por Pinhal Novo avistando algumas “alminhas”esculpidas em duro granito, alguns moinhos de água recuperados, que nos apraz salientar e num ápice regressamos novamente à Vila do Caramulo, pela frente do seu grandioso Hotel onde outrora foi o Sanatório Salazar, muito movimentado e terminamos este agradável percurso entre as floridas papoilas no Lago do Sameiro.
Deixamos para uma outra ocasião a visita ao Museu do Caramulo com a componente da Arte, onde se podem admirar obras de Salvador Dali, Picasso ou Amadeo de Sousa Cardoso, entre outros, e no espaço do Automóvel onde estão expostos antigos velocípedes, motociclos e automóveis, entre os quais um Peugeot de 1889 o mais antigo de Portugal que ainda anda e o Cadillac de Salazar, Rolls Royces e Ferraris, repartição esta do Museu que foi impulsionada pelo fascínio dos automóveis que teve João Lacerda, seu fundador.
Satisfeitos com mais esta agradável caminhada, fizemos o nosso piquenique neste lugar de clima privilegiado e ameno, soberbo de Paz e ar puro, que é o Parque Jerónimo Lacerda.
O Dr. Jerónimo de Lacerda, que viveu entre os anos de 1889 e 1945, foi um grande médico e o fundador da Sociedade do Caramulo.
A Sociedade do Caramulo nasceu com o propósito de construir um grande hotel para convalescentes, o que viria a suceder a 8 de Junho de 1922, com a inauguração do Grande Hotel, posteriormente convertido em Grande Sanatório do Caramulo.
Com a implementação revolucionária na medicina da vacina BCG e o aparecimento de antibióticos, estreptomicina e hidrazinas, os doentes passaram a poder tratar-se nas suas próprias casas e a partir de 1965 iniciou-se o declínio daquela que foi, sob a orientação de Jerónimo de Lacerda, a maior e melhor estância sanatorial do País.
Muitos dos imóveis recuperados são hoje Lares de 3ª Idade.
Foi mais um belo Percurso nesta adorável Serra, que havemos, se Deus quiser, voltar brevemente para percorrermos a Rota do Linho.
Até lá
Beijinhos da “Caramulinha”
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