Rede de Percursos Pedestres
“Na senda de Miguel Torga”
Deixamos agora a Geira e descemos em direcção a Chorense mas, inflecte-se logo à esquerda por um caminho que conduz a uma das partes mais belas do percurso, se assim podemos dizer, pois todo ele é deslumbrante!
Cruzamos uma ribeira com algum caudal e uma espectacular cascata, antes de nos embrenharmos pelo caminho daquele bucólico bosque, chegando à povoação.
Aqui podemos admirar as suas casas graníticas, os tradicionais espigueiros e algum gado autóctone típico da região.
Cruzamos uma ribeira com algum caudal e uma espectacular cascata, antes de nos embrenharmos pelo caminho daquele bucólico bosque, chegando à povoação.
Aqui podemos admirar as suas casas graníticas, os tradicionais espigueiros e algum gado autóctone típico da região.
Pelos caminhos agrícolas chega-se à Casa da Devesa, local com um antigo e belo núcleo habitacional, sobressaindo a antiga Capela, que nos pareceu convertida em palheiro, a fonte de água fresquinha, um ponto importante de reabastecimento, a casa granítica e aquele impressionante espigueiro.
Um pouco adiante inflecte-se para a esquerda, já na Estrada Municipal, passando uma Capela e por esse ascendente um pouco cansativo, à saida de Chãos, chegávamos outra vez à Geira Romana, que vem da Portela de Santa Cruz e num ápice se alcança a milha XV.
Um pouco adiante inflecte-se para a esquerda, já na Estrada Municipal, passando uma Capela e por esse ascendente um pouco cansativo, à saida de Chãos, chegávamos outra vez à Geira Romana, que vem da Portela de Santa Cruz e num ápice se alcança a milha XV.
É aqui que “nasce” a Geira, li eu há anos num artigo.
Para compreendermos melhor esta parte da via, socorremo-nos mais uma vez do painel informativo, localizado no local:
« No termo do lugar de Barral, junto ao traçado da via, no sítio denominado Cantos da Geira, ou Bico da Geira, na freguesia de S. João da Balança, a uma altitude de 430 metros, foram assinalados pelo Padre Matos Ferreira dois miliários inteiros e um fragmento de outro. Um com inscrição muito apagada; outro dedicado ao imperador Caro (282-283). A referência à milha XV é legível. Martins Capela atribuíra o marco ao imperador Maximiano (285-305), sem contudo indicar qualquer leitura . Actualmente conservam-se os dois marcos, situados no lado esquerdo (norte) da via. É possível que no mesmo local ainda se conserve o fragmento do terceiro miliário.
« No termo do lugar de Barral, junto ao traçado da via, no sítio denominado Cantos da Geira, ou Bico da Geira, na freguesia de S. João da Balança, a uma altitude de 430 metros, foram assinalados pelo Padre Matos Ferreira dois miliários inteiros e um fragmento de outro. Um com inscrição muito apagada; outro dedicado ao imperador Caro (282-283). A referência à milha XV é legível. Martins Capela atribuíra o marco ao imperador Maximiano (285-305), sem contudo indicar qualquer leitura . Actualmente conservam-se os dois marcos, situados no lado esquerdo (norte) da via. É possível que no mesmo local ainda se conserve o fragmento do terceiro miliário.
Por outro lado, observam-se três crateras, as quais podem indicar que existiam mais três miliários, arrancados ao solo em data incerta, antes do reconhecimento efectuado pelo Padre Matos Ferreira. Amaro da Silva refere mais dois miliários recolhidos nas proximidades, na década de 80, levados para a sede da Câmara Municipal, um de Décio (250), e outro de Magnêncio (350-353).A partir de Cantos da Geira o percurso toma a direcção leste, que vai manter até à milha XVII, e está bem conservado numa extensão de cerca de 290 metros. Entre este último ponto e os 338 metros, o traçado encontra-se degradado. Efectivamente a partir dos 397 metros o trajecto da via foi alargado, devido à abertura de uma estrada de terra batida que se sobrepõe à via até ao 645 metros. De seguida retoma-se o percurso antigo até ao marco que assinala a milha seguinte. A 1814 metros regista-se o marco da milha XVI. Em diversos pontos foi possível fotografar rodados de carros. Regista-se, também uma pequena calçada, numa extensão de 30 metros (aos 1325 m.), bem como uma possível pedreira antiga aos 1663 metros.Neste trajecto a via tende a subir ligeira e suavemente da cota 430 para os 450.»
Após deixarmos para trás esta milha, a Geira alarga-se um pouquinho, permitindo caminhar lado a lado e conversando descontraidamente mas, logo toma um singular ascendente, surgindo aí vários troços de calçada, em partes ladeada por murilhos cobertos de aveludado musgo.
Na vegetação predominam pinheiros e eucaliptos, com partes da via mais uma vez encharcada por linhas de água que brotam das nascentes da sua encosta.
Chegávamos então à milha XVI, no lugar do Penedo dos Teixugos,na encosta do Monte das Caldeiras e do Fragão, onde se avista um miliário erigido ao Imperador Décio, no ano de 251 (sec.III ), notando-se bem a gravação no marco cilíndrico.
Chegávamos então à milha XVI, no lugar do Penedo dos Teixugos,na encosta do Monte das Caldeiras e do Fragão, onde se avista um miliário erigido ao Imperador Décio, no ano de 251 (sec.III ), notando-se bem a gravação no marco cilíndrico.
Descreve-se assim o registo desta milha:
«Na milha XVI, localizada no Penedo dos Teixugos ou Pala, na freguesia de S. João da Balança, a uma altitude de 450 metros, regista-se um marco epigrafado e outro anepígrafe, detectado no muro de uma bouça próxima do local onde se encontra actualmente. O marco inscrito foi descoberto por Amaro da Silva, em 1987, e foi levantado pela Câmara Municipal de Terras do Bouro.
«Na milha XVI, localizada no Penedo dos Teixugos ou Pala, na freguesia de S. João da Balança, a uma altitude de 450 metros, regista-se um marco epigrafado e outro anepígrafe, detectado no muro de uma bouça próxima do local onde se encontra actualmente. O marco inscrito foi descoberto por Amaro da Silva, em 1987, e foi levantado pela Câmara Municipal de Terras do Bouro.
Trata-se de um miliário dedicado a Décio (250). O Padre Matos Ferreira também refere outro marco, de Maximiano (285-305), entretanto desaparecido. O trajecto da Geira entre esta milha e a seguinte está em bom estado ao longo de 945 metros. A 60 metros identificam-se vestígios de rodados. A 460 metros a via cruza um pequeno curso de água (Ribeira da Devesa). Novos vestígios de rodados observam-se aos 685 metros. Entre os 945 metros e 1168 metros a via foi alterada por uma estrada de terra batida junto da capela de S. Sebastião da Geira (aos 1150 metros), para além de ser cortada pela EM 535-2, entre Chorense e Saím. Nos terrenos adjacentes ao templo, a norte, entre a capela e o monte, onde se ergue um cruzeiro, foram recolhidos fragmentos de cerâmica romana. Num corte, observámos indícios de um muro. Existiu aqui uma mutatio? Deste local em diante (1168 metros) até aos marcos da milha XXVI o caminho está em relativamente bom estado. Há uma calçada junto à ribeira da Igreja, situada a 1427 metros de Teixugos. No leito desta ribeira observa-se um miliário tombado, não tendo sido possível determinar se estava epigrafado. Observam-se marcas de rodados de carros aos 1480 e 1517 metros. Entre a milha XVI e o conjunto seguinte de marcos, mediram-se 1627 metros.»
Mais adiante e com vistas maravilhosas sobre os socalcos de Chorense, surge-nos de seguida uma paisagem deslumbrante que nos mereceu ser contemplada nas calmas, um espectacular bosque onde predominam carvalhos alvarinho, a árvore autóctone (natural da região) mais abundante, pinheiros-bravos, castanheiros e luxuriante vegetação rasteira, com predominância para variedades de fetos junto aos cursos de água. Foi deveras encantador e inesquecível, vindo à memória aquelas palavras de Miguel Torga, que nas suas caminhadas murmurava:
«… Oiço-vos por instinto, sussurrantes pinhais!
Não entendo as palavras, mas pressinto
Que são poemas que me recitais!»
«… Oiço-vos por instinto, sussurrantes pinhais!
Não entendo as palavras, mas pressinto
Que são poemas que me recitais!»
Mais mil metros percorridos e eis-nos na frente da Capela de S. Sebastião, onde tínhamos iniciado este belo Percurso.
Chegados próximo da dita fonte, o sol a brilhar agora com raios mais fulminantes e as nossas gargantas sequiosas por fresca água, qual não foi o nosso espanto ao verificarmos que esta tinha pura e simplesmente “secado”!
Tanta água há umas horas atrás e agora nem uma gota! Coisas do diabo?!
…ou de alguém, quiçá, sabendo dos nossos carros ali estacionados (turistas que hoje vieram caminhar por estas bandas e no final terão sede) pode desviar o curso da nascente e esteja por ali perto escondido a zombar de nos verem incrédulos com esta situação?
Como Torga, também mais uma vez nos inundou a emoção de ter nascido nesta Pátria, repleta de sol e verdura entre escarpas de granito cobertas pelo céu azul, pois a Natureza é tão pura que não tem culpa destes actos, destas desgraças humanas!
Desolados, deixamos o lugar e dirigimo-nos para Sequeiros, onde nos aguardava um singelo mas reconfortante parque de merendas, com mesa e bancos de granito e uma fonte de água pura e cantante, onde os transeuntes paravam e bebiam com prazer. Aqui fizemos o nosso agradável piquenique e no fim do repasto, conversamos sobre o tema “Geira” que marcou esta agradável Caminhada.
A Geira é uma via histórica com mais de mil anos e com uma impressionante beleza paisagística, candidata a Património da Humanidade, pois é um autentico museu ao ar livre que, para além das maravilhas da Natureza, proporciona a quem por ela caminha, descobrir incríveis mistérios da arqueologia que nos deixaram os Bracaros e Romanos.
Continua...
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