quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Por Terras da “Vilariça” (4)

Rede de Percursos Pedestres
de Alfandega da Fé

PR Trilho de Gouveia

Logo pela manhã tomamos o pequeno-almoço no Parque de Campismo e dirigimo-nos à estrada para Junqueira, tomando a direcção de Alfandega da Fé, até encontrarmos, lá no alto, o caminho para Gouveia, onde se desenrola este percurso.

Na Junqueira e antes de Nozelos, mais uma vez fomos felizes ao ter que parar o carro para deixar passar um enorme rebanho com cerca de 200 ovelhas, conduzidas por dois pastores.
Depois deste momento, prosseguimos e num ápice chegávamos à Aldeia de Gouveia.

Iniciamos este curto trilho, com cerca de 6 km, em circulo, tomando um ascendente com vistas magnificas sobre esta Aldeia, lá bem no fundo do Vale.

No cimo da Serra de Gouveia encontra-se o marco geodésico a 650 metros de altitude.
Os pastores cobriram-no com um toldo para protecção do Sol, com o fim de descansarem por longos momentos enquanto apascentam os seus rebanhos.
Deste miradouro avista-se perfeitamente a Vila de Alfandega da Fé, lá ao longe e à nossa esquerda a Serra Brava.

As vistas sobre o Vale são admiravelmente deslumbrantes.
Regressamos ao trilho e por um descendente até ao Vale, onde se vêm hortas, pomares e vinha.

A ladear o caminho, surgem os sobreiros em parte descascados da sua cortiça, outro dos variadíssimos produtos para além da produção do azeite, da amêndoa e da famosa cereja, são hoje, mais do que nunca, importantes fontes de rendimento para consumo próprio e comércio, que se abastecem nestas sempre produtivas hortas.

Ao fim de sensivelmente três quilómetros, entravamos no Núcleo Rural de Sendim da Serra, que atravessamos pela Igreja Paroquial, verificando que algumas antigas casas se encontram em decadência avançada, embora outras já recuperadas, emergem por entre as ruínas.

Seis pessoas de meia idade cruzaram-se connosco, cumprimentando-nos e foram juntar-se a outras quatro que estavam sentadas à porta de uma habitação em cavaqueira.
Mas, meu Deus, onde estão as crianças, que não vemos uma sequer na rua a brincar?
A resposta era nos dada um pouco mais adiante, já na subida para o alto da Serra de Sendim da Serra: outra antiga escola primária foi adaptada para Turismo Rural!

Para onde caminhas, Portugal? Para a velhice?! E o equilíbrio humano, etário e social?
A manhã continuava algo fresca, com o céu encoberto e este ascendente até ao alto da serra foi percorrido com agrado, pois enquanto se caminhava desfrutava-se de uma paisagem sempre deslumbrante, embora predominantemente castanha pela secura das terras. A falta de água nestas regiões é um problema social muito sério e periclitante.
Caminhávamos agora pelas alturas da serra e surge-nos, lá detrás dos penedos, dois cães pastores guiando um rebanho de cerca de 100 cabras, de cor homogénea cinzenta, e logo localizamos o pastor lá atrás, entre elas.

Foi outro momento singelo que nos apraz registar mas, confrontamo-nos com aquele pensamento algo triste, por verificarmos, ao contrário do que inicialmente prevíamos, afinal tantos rebanhos de gado caprino e ovino que ainda pastam por estas regiões, embora nas ruas ou nas casas das Aldeias por onde passamos, nem uma criança vimos!

De regresso ao caminho que inicialmente subíramos, descíamos agora até Gouveia, serena Aldeia que visitamos com mais calma, para depois descansar e lanchar à sombra de seculares sobreiros, regressando posteriormente ao Parque de Campismo e à sua convidativa piscina municipal.

Gouveia
«A freguesia de Gouveia encontra se a sete quilómetros de Alfândega da Fé e tem como anexa o lugar de Cabreira. Situa-se na encosta sul da Serra com o mesmo nome, que abriga a povoação dos ventos de leste e nordeste. Segundo o Padre Francisco Manuel Alves, em "Memórias Arqueológico Históricas do distrito de Bragança", o seu nome deriva do antigo verbo `gouvir', que significa `gozar'. Não é credível tal definição toponímica, a não ser pelas questões paisagísticas que se podem desfrutar a sul, na encosta que dá para o rio Sabor...

A Igreja paroquial foi construída em 1725. Possui cinco altares. Neste edifício merece destaque o seu prospecto exterior, muito agradável e merecedor de uma visita. Além do templo matriz existem mais duas ermidas, dedicadas a Santa Marinha e à Senhora do Rosário. A posição estratégica junto ao vale do Sabor, os Castros identificados na zona e a Serra da Gouveia conferiram a Gouveia uma importância redobrada em tempos mais recuados.

Ainda em finais do século passado a freguesia tinha mais de 300 habitantes. Actualmente conta com 185 eleitores e cerca de 200 habitantes, espelhando bem a sangria da emigração que caracteriza toda esta zona do interior. A localidade de Cabreira, única anexa da freguesia, tem cerca de meia centena de habitantes e é zona de povoamento antigo, comprovado pelo Castro que se encontra nas suas proximidades.

A agricultura é a principal actividade da freguesia, apesar da escassez de água. As boas hortas que ali se trabalham só contam com água corrente durante pouco mais de metade do ano. A oliveira, a amendoeira e o sobreiro têm ali boas condições de vida. Naturalmente, acabou por se desenvolver a pastorícia, como complemento à actividade agrícola. Realizam se festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios, a 14 de Agosto, na Cabreira e de S. Bartolomeu, a 24 de Agosto, em Gouveia.»
Texto: Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,
coordenado por Barroso da Fonte

Continua…

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