quinta-feira, 16 de abril de 2009

22-03-2009 Serra D’Arga (1)

Trilho do Cabeço do Meio Dia - 8 Km / Circular
Rede de Percursos Pedestres Valimar


Olá Amiguinhos

Cá estamos uma vez mais para vos relatar outra bela caminhada que o Grupo Familiar “Caramulinha” levou a cabo pelo Norte deste Portugal maravilhoso.
Já desde o Ano de 2005 que não vínhamos caminhar pelas veredas das encostas da Serra D’Arga.
Desta vez, viemos calcorrear pelo espaço geográfico da Serra pertencente ao Concelho de Caminha, como são sobejamente conhecidas as Freguesias de Arga de Cima e de Baixo.
Na realidade, em 2004 percorremos alguns lugares maravilhosos desta região, em trilhos feitos de algum improviso.
Soubemos, posteriormente, que já haviam sinalizado alguns percursos mas, fomos adiando até hoje o nosso regresso à Serra D’Arga.
Nunca é tarde para recordar ou descobrir novos horizontes.
Optamos, então, pelo Trilho do Cabeço do Meio Dia, com uma distância de 8 km e que faz parte da rede de percursos pedestres da Valimar – ComUrb. Foi marcado e sinalizado pelo Clube Celtas do Minho, com a colaboração da Câmara Municipal de Caminha.

Começamos cerca das 09.30H ao sentido contrário do que manda o folheto descritivo, para tentarmos encontrar mais pessoas no aglomerado habitacional, que se avistava logo ali a 500 m.
Encontramos poucos habitantes, alguns pastores a guiar o gado para o monte, parecendo que até fugiam de nós, ou já iriam atrasados, pois não paravam…
O Tiago, jovem habitante do lugar da Gândara, é que conversou um pouquinho connosco e disse que gostava de ter mais amiguinhos para brincar.
No final da etapa visitamos esse interessante monumento de arquitectura rural, o “Pontão do Lobo” lançado sobre o regato da Fraga.

Segundo nos contou o Sr. António, de Arga de Baixo, reza a história tradicional das Argas, que era por ali que o lobo ibérico passava, altas horas da noite, quando vinha até próximo dos currais junto das habitações, no intuito (quantas vezes vitorioso) de roubar um cordeiro ou cabrito de tenra idade.
Quando tinha crias, já não comia a ovelhita e como a transportava para o covil, oculto algures na serra, dava-lhe jeito atravessar o regato por aquele pontão.
É tão verdade, porque chegou a ser avistado a fugir por ali, dizia o Sr. António.
(...) Agora… já não se vê lobos… nem lá longe na Serra, complementa.


Em 2003 o biologo Francisco Álvares, que estuda e acompanha já há alguns anos as (praticamente extintas) alcateias de lobos que outrora vagueavam pela Serra d'Arga, deixava a sua opinião, testumunhando um cenário deveras problemático sobre a existência, no futuro, do Lobo Ibérico no habitat mais próximo ao litoral, concretamente a fantástica Serra d'Arga:

A alcateia mais perto da costa atlântica em risco de extinção!

O lobo ibérico está em perigo de extinção na Serra d'Arga, no Alto Minho português, a zona mais perto da costa atlântica onde se detectou a presença desta espécie única cujos vestígios são cada vez mais raros.
"É um privilégio ter lobos nesta paisagem de montanha tão bonita, com o mar em fundo", afirmou o biólogo Francisco Álvares, um dos maiores especialistas portugueses em lobo ibérico (canis lupus signatus).
O biólogo falava à Lusa durante uma visita de trabalho à Serra d'Arga, um maciço granítico situado entre os vales do Lima e do Coura, classificado como Sítio Natura 2000, que abrange os concelhos de Viana do Castelo, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura e Ponte de Lima.
O núcleo de lobos de Arga / Paredes de Coura, que Francisco Álvares estuda há cerca de uma década, tem diminuído nos últimos anos e deve estar reduzido a um número muito pequeno de exemplares.
Este núcleo, que é o que se encontra em maior risco de extinção no território português, era constituído por três grupos familiares, dos quais um está dado como extinto, já que não há indícios de reprodução desde 1996, e os outros dois não apresentam indícios de reprodução há dois anos.
"O lobo está a tentar sobreviver num mundo que tem cada vez menos lugar para ele", frisou Francisco Álvares, salientando as crescentes dificuldades que são colocadas ao lobo ibérico na Serra d'Arga, especialmente depois da construção do troço da A3 (Porto/Valença) entre Labruja e Romarigães, que isolou a alcateia, impedindo-a de contactar com as populações de lobos da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), uma das mais densas da Europa, com sete a oito lobos por quilómetro quadrado.
Totalmente afastada está a possibilidade de transferir animais da área do PNPG para a Serra d'Arga, já que, além da dificuldade de apanhar um lobo e dos perigos de se estar a manipular uma alcateia, eventualmente retirando-lhe elementos que não sejam excedentários, existe o problema social.
"As pessoas não aceitam a libertação de lobos na serra", admitiu Francisco Álvares.
A crescente pressão humana, a construção da auto-estrada e a falta de alimento são os três principais factores que estão a provocar o desaparecimento do lobo ibérico das zonas serranas do Alto Minho.

Texto: Francisco Ribeiro (Lusa) 2003

Continua…

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