quarta-feira, 22 de abril de 2009

Vale da Ribeira de Picoutos (3)

S. Mamede de Infesta - Matosinhos

Tempos de ontem... e de hoje!

(…) É formosíssima a entrada meridional da freguesia. Como a estrada, ondolosa e linda, atravessa um vale por onde serpenteia um regatosito a que chamam QUEIRÃO, (actual Ribeiro de Picoutos emparedado de betão) de margens bordadas pelas estrelitas azuis dos miosotis, a vista recreia-se dum e doutro lado com belos retalhos de paisagem duma coloração extensa e rica de cambiantes...

Porém, a proximidade da cidade do Porto, o desenvolvimento de Matosinhos com a construção do Porto de Leixões e a sua posterior transformação em porto comercial, a ingrata situação na encruzilhada de eixos viários fulcrais, a explosão demográfica e industrial imparavelmente comprometeram a ruralidade e o bucolismo então vivente.(…)

(…)As suas belezas naturais, enaltecidas nos jornais e em outras publicações de antanho, fazem-nos antever um local remansoso. O dr. Abílio Campos Monteiro, numa soberba pagina a descrever as belezas naturais desta Sintra do Porto, como a designou, dá eloquente testemunho:

Há, espalhados por toda a freguesia, vales cheios de encanto, devezas recônditas e silenciosas onde é doce retugir do bulício, escutando apenas o sussurrar da ramaria e o murmúrio das fontes. Esta a razão porque muitas famílias, sobretudo portuenses, a elegeram como lugar de repouso.(…)

Velhos usos que já se foram!

(…) Quem passasse por S. Mamede de Infesta, nos tempos de antanho, via bandos de mulheres com canados de leite à cabeça, para o levar para as suas freguesas nas bandas do Porto. A rodilha à cabeça, equilibrando, cantando, com as suas saias rodadas de fazenda, blusa de chita branca, lenços floridos postos nos ombros e cinta preta ou escarlate cingida à cintura. Se de Inverno, meias de lã, pernas nuas, se de verão.
Ao bater dos tamancos, pela rua Nova, até à Arca de Água juntavam-se as suas cantigas. A zona de S. Mamede de Infesta era rica em gado vacum, devido ás boas e vastas pastagens que os vários ribeiros que entrecortavam a freguesia regavam. Estes ribeiros também serviam para outra das actividades, típicas das mulheres de S. Mamede de Infesta:

As lavadeiras

Dadas ao rol ou à peça, a roupa a corar sobre a relva fresca, o cheiro a flores silvestres, depois de lavada nas águas frescas e limpas dos ribeiros e dos córregos. Recebidas na segunda-feira, lá iam entregar a roupa lavada na quarta-feira. Não era fácil a vida das lavadeiras e das leiteiras. Pela madrugada lá se iam para o Porto, sendo que as lavadeiras, devido ao grande volume das suas trouxas, iam de carro de bois ou puxados por muares. Depois das entregas, tinham que vir para as lides domésticas ou ainda para a lavoura.

Continua…

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