sábado, 10 de maio de 2008

16-02-2008 PR5 Vouzela

Caminho de S. Miguel do Mato

O Município de Vouzela, nomeadamente por intermédio do seu Gabinete de Turismo, tem sido um dos pioneiros da Região Centro, na divulgação desta área geográfica lançada de portas abertas para uma implementação turística destinada a todos que gostam e amam a Natureza que o nosso belo País oferece.
Para tal, a um óptimo parque de campismo – Senhora do Castelo - juntou uma rede de percursos pedestres que foi criando nas suas freguesias, bem estruturados e sinalizados.
Hoje, resolvi percorrer o PR5, que nunca me tinha importado de o pesquisar em detalhes, deixando para este dia “aquele mistério” e algum pressentimento de nostalgia que seria caminhar pela antiga Linha do Vouga, no ramal de Viseu, e conhecer a velha Igreja e a Capelinha do Senhor da Agonia de cujas peregrinações e romarias de outros tempos eu já tinha ouvido falar.

O percurso inicia-se junto à antiga estação de Moçamedes, edifício bem preservado, onde actualmente ali funciona a Junta de Freguesia.
Os pés já quentes com algumas centenas de metros percorridos e aparece-nos aquele túnel por onde outrora “furava” a locomotiva a vapor. Óh! Velhos tempos, dirás tu.

Uma ave foge do meu olhar e à saída, na penumbra, abre-se uma janela neste lugar de apeadeiro, que me vai deixar a alma cheia de melancolia, quando avisto, lá ao fundo, aqueles muros ao alto com uma torre, onde outrora foi um local de acolhimento Religioso Cristão, a Igreja Matriz de S. Miguel do Mato.

Caminhei por aquele cemitério e lembrei-me daquelas palavras que aprendi num retiro e que aqui vos escrevo:

Abaixo do chão dez palmos
Já não tem lugar as leis,
As leis que os homens fizeram
Com seus códigos cruéis!


Subi aquela escada granítica e do alto da torre onde outrora os sinos repicavam a chamar os fiéis para a Santa Missa, senti um vazio tão grande no coração, por ver um espaço envolvente tão belo e sem vida humana, embora esta Paz serena me confortasse a alma, deixando-me a meditar como tudo pode ter acontecido.
ruínas da Igreja Velha

Nos anos 40, durante a 2ª Guerra Mundial, existiram nesta região (ainda lá estão os vestígios) duas minas importantes – Barrosa do Cume e Bejanca – de onde se extraíam o estanho e o volfrâmio para a pólvora dos canhões de Hitler.
Empregavam muita gente que nesse tempo abandonou a agricultura e se dedicou à arte de mineiro, bem mais rentável.
Foram anos prósperos por esta que era uma zona rural pobre.
A morte de inocentes a milhares de kms de distância, por incrível que pareça, era o sustento de inúmeras famílias Portuguesas, que com a extracção e venda desse minério aos alemães, melhoravam as suas condições de vida e assim puderam criar os seus filhos e envia-los para as escolas, que antes seria algo impensável nestes meios pobres.
Terminada a guerra, a exploração do volfrâmio e do estanho praticamente se extinguiram, deixando muita gente desempregada e quem não soube poupar esses ganhos (em alguns casos tornaram-se famílias ricas e abalaram para o litoral) as gentes regressaram ao trabalho do campo e caíram novamente na sua natural pobreza.
o Vale triste
Com o encerramento da Linha do Vouga, então foi mesmo o fim de qualquer esperança de vida que alguns ainda pudessem sonhar e a emigração para os países ricos da Europa e Américas foi a resposta que esta gente encontrou.
Aqui, a desertificação humana está patente aos olhos de todos.
Deixamos o caminho onde foi a antiga via-férrea e prosseguimos ao redor daquele vale deveras triste.


Após uma descida, surge-nos entre as fragas a Capela do Senhor da Agonia, na vertente do monte junto dum rochedo, exposta ao tempo e ao mundo.
Pensando em Deus, lembrei-me então, daquele verso:

Tu és talvez aquela dor sombria
Que o teu doce coração feriste,
Quando morreu teu Filho, quando viste
Mudar-se em noite escura o próprio dia!


Depois de alguns momentos no bucólico miradouro, atravesso a povoação e dou comigo no fim deste caminho.


Não se esqueçam desta terra e destas gentes!


A “Caramulinha"

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