sábado, 20 de dezembro de 2008

25-10-2008 PR “Cumieira” (2)

Trilho do Céu e da Terra – 7 km / Circular
Rede de Percursos Pedestres
Santa Marta de Penaguião

A Viticultura do Douro (A)

Da pedra se fez terra,
Do sol bravo o licor generoso,
Que tem um ressaibo de brasa
E de framboesa.
Aquilino Ribeiro

Os Montes, as Videiras e o Rio

«A Viticultura do Douro não pode deixar de ser tida como o exemplo mais vivo da perfeita simbiose entre agricultura e o meio ambiente; para ela ter sido possível nas encostas alcantiladas do Douro e dos seus afluentes, o Homem teve de construir mais de dois milhares de quilómetros de muros, criando os tradicionais “calços ou socalcos” e, neles, do “xisto-pedra” fazer terra onde vingassem os bacelos, para hoje podermos desfrutar da paisagem maravilhosa e inigualável - que é Património Mundial - onde se produzem vinhos afamados.Dele, do Douro, diz-nos João de Araújo Correia: “O holandês subtraiu ao mar a terra que o sustenta; o duriense arrancou-a, palmo a palmo, a uma natureza tão brava como o mar”, ou ainda, segundo Miguel Torga, “E (o Douro) é, no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensurável com que podemos assombrar o Mundo”.
O Douro é uma região vitícola em que a paisagem se identifica com o seu rio, em cujas encostas prevalece a monocultura de um vinho fino – o Vinho do Porto – e de um outro não menos nobre – o Douro – tirando proveito de um micro clima de características mediterrânicas e da natureza xistosa dos seus solos.Trata-se, pois, de uma paisagem com características peculiares que o homem duriense soube, não só preservar, como valorizar ao longo de muitas “gerações de sacrifício”. A sua capacidade de resistência e a vontade de vencer estão bem patentes não só no esforço e dureza dos trabalhos associados à plantação das vinhas (em que os Galegos tiveram também papel preponderante) em condições de relevo agressivas e ainda no transporte das pipas nos barcos “rabelo” com condições de incomodidade e de risco até ao cais da Ribeira em Vila Nova de Gaia, como ainda na teimosia, determinação, capacidade de sofrimento e resistência que são, entre outros, atributos de um Homem que se não deixou soçobrar à razia provocada pelo aparecimento e rápida expansão da filoxera em 1868, reabilitando uma paisagem e um produto que são, hoje, uma das maiores referências do nosso País.
Só a tenacidade e teimosia do Homem do Douro a venceu, a partir da altura em que Joaquim Pinheiro de Azevedo Leite Pereira, nas suas propriedades de Sabrosa, conseguiu descobrir o antídoto para tal praga: a enxertia das castas europeias em bacelo americano.
Mas foi sol de pouca dura para os problemas dos Viticultores; tinham acabado de vencer a Filoxera, mas, logo em 1893, surgem os ataques de uma nova doença desconhecida – o Míldio da videira. E a grande verdade é que, se a Filoxera “se foi”…, hoje ele tem ainda de viver e saber conviver com aquela nova praga; com fungicidas de contacto, como era o sulfato de cobre, ou, progressivamente, com os sistémicos, os de dupla acção, os penetrantes, etc. No Douro convergem, para além deste espírito dos seus naturais, outros três elementos essenciais à criação das condições naturais para o surgimento deste produto ímpar e inigualável que é o Vinho do Porto e que tão bem João de Araújo Correia, escritor duriense contemporâneo descreve neste seu poema: “Tem montes e montes a crescer/Videiras que ninguém pode contar/Oliveiras que vivem a rezar/E um rio que não para de correr. Região de monocultura, onde apenas a oliveira e algumas fruteiras aparecem associadas aqui ou além para a produção de azeite e fruta para auto consumo, a vinha representa cerca de 45 mil hectares, sendo cultivada por aproximadamente 30 mil viticultores.A Denominação Douro, regulamentada apenas a partir de 1982, representa um volume de certificação anual de cerca de 200 mil hectolitros e é comercializada respectivamente e por ordem decrescente de volume por Comerciantes, Adegas Cooperativas e Produtores Engarrafadores.Trata-se ainda de uma Região que emprega na agricultura 47,5% da sua população, onde é difícil sobreviver e que, para além disso, apresenta dados socio-económicos preocupantes no que respeita ao envelhecimento da população – a população com menos de 15 anos ficou reduzida em 45% de 1970 a 1991, enquanto que a de mais de 60 anos aumentou 35% no mesmo período. A taxa de natalidade em 1990 era de 11,5% e a de mortalidade 12,2 %. O analfabetismo atinge 18,2%, havendo concelhos que se aproximam dos 30%, com mão-de-obra pouco qualificada, muito baixo dinamismo económico de base industrial e, pelo contrário, elevado índice de ruralidade que pode ser atestado pelo facto de se verificar que não só cerca de 50% da população vive em aglomerados com menos de 500 habitantes como, por outro lado, em três centros – Lamego, Vila Real e Peso da Régua – se localiza ¼ da população do Douro, isto é, cerca de 60 mil habitantes.»
Texto: (resumo) Bayer Crop Science

Continua…

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