sábado, 27 de junho de 2009

14-06-2009 – Mondim de Basto (6)

CAMINHADA DO DIA DE PORTUGAL

O Lobo Ibérico no Parque Natural do Alvão

DISTRITO DE VILA REAL:
Lobo Ibérico em risco de extinção devido à construção!

Os menos de 90 lobos que subsistem no distrito de Vila Real correm o risco de "extinção" se não forem minimizados os impactos provocados pela construção de parques eólicos, barragens, auto-estradas e pedreiras, alertou o Grupo Lobo.
O distrito de Vila Real sempre foi um território de lobos, cuja presença foi favorecida pela sua orografia acidentada aliada ao isolamento e à existência de pastorícia extensiva.
Gonçalo Costa integra a equipa do Grupo Lobo que, desde 2005, está a monitorizar a população lupina no âmbito da construção das auto-estradas A7 e A24 no Sítio Rede Natura 2000 Alvão / Marão, projecto apoiado pelas concessionárias Aenor e Norinter.
O técnico, que falava no decorrer da conferência "Grandes Infra-Estruturas & Conservação do Lobo", em Lamego, salientou que o recente "desenvolvimento humano tem contribuído decisivamente para o desaparecimento do factor isolamento, ameaçando a manutenção a médio prazo dos lobos".

18 alcateias identificadas em 2003

O último Censo Nacional de Lobo, efectuado em 2002/2003, identificou no distrito de Vila Real 18 alcateias (com uma média de cinco lobos por alcateia), se distribuídas pelas serras do Alvão, Marão, Falperra e zona do Barroso.
"Nestes últimos anos registou-se um decréscimo da população e, actualmente, pensamos que haverá menos de 90 lobos neste território", salientou o responsável.
Gonçalo Costa fala em "grandes alterações" no habitat destes animais.
Estas alterações, segundo o presidente do Grupo Lobo, Francisco Petrucci-Fonseca, poderão levar "mesmo à extinção" do carnívoro neste território.
Para além das já construídas auto-estradas A7, que no distrito liga Ribeira de Pena a Vila Pouca de Aguiar, e a A24, entre Peso da Régua a Chaves, e das muitas pedreiras ilegais que esventraram as serras, está também prevista a construção de quatro barragens na zona do Alto Tâmega e de vários parques eólicos.
"A extracção de granito feita de forma ilegal e desenfreada na Falperra e Alvão constituem um grande factor de perturbação para a estabilidade ecológica destas zonas", frisou Gonçalo Costa.

Pedreiras, aerogeradores e barragens também afectam a espécie

Segundo as contas deste técnico, já existem cerca de 80 aerogeradores espalhados pelo Alvão e Marão e está ainda prevista a construção de mais parques eólicos naquele território.
"O grande impacto provocado pelos parques eólicos são os acessos construídos em zonas que antes eram inacessíveis e que serviam de abrigo aos lobos".
Fracisco Petrucci-Fonseca considera que os aerogeradores funcionam com uma espécie de ponto de atracção turística que "aos fins-de-semana atraem uma quantidade de trânsito surpreendente".
A construção de quatro barragens na zona do Alto Tâmega constitui, para estes responsáveis, "mais um problema".
As barragens previstas no Plano Nacional para o Alto Tâmega são a de Vidago (Chaves), Daivões (Ribeira de Pena), Gouvães (Vila Pouca de Aguiar) e Padrozelos (Ribeira de Pena e Boticas).
"As barragens vão destruir o corredor ecológico ao longo do rio Tâmega, que é de importância vital para muitas espécies", salientou o líder do Grupo Lobo.
O responsável acrescentou que aquelas infra-estruturas "vão funcionar como uma barreira, impedindo a passagem dos lobos e o seu contacto com outras alcateias, e servirão também como factor de atracão turistica para muitas pessoas".
"Ou seja, o problema físico resultante da construção das barragens vai ser ampliado com a concentração de pessoas também ao longo dos espelhos de água", frisou.
Fracisco Petrucci-Fonseca salientou que, todos estes factores juntos, "vão fazer com que os lobos do Alvão fiquem completamente isolados".
"Todos estes factores potenciam um aumento da perturbação humana em zonas anteriormente tranquilas e quase inacessíveis à população, as quais correspondem aos últimos redutos desta espécie em Portugal", acrescentou Gonçalo Costa.

Passagens superiores nas auto-estradas são bom exemplo de mitigação dos impactes

No caso dos parques eólicos, o presidente diz que os acessos deveriam estar vedados, permitindo apenas o acesso para a manutenção dos mesmos.
"O novo desafio para a conservação do lobo é que estas novas infra-estruturas tenham em conta a sua existência", salientou.
O responsável deu como exemplo o caso das auto-estradas, como a A24, que já contempla passagens superiores e inferiores que permitem a permeabilidade a esta e outras espécies, como corços e veados.
Segundo Gonçalo Costa, já depois de concluída aquela via, foi construída uma nova passagem inferior a pedido do Parque Natural do Alvão, já que se verificou a inexistência de passagens ao longo de um troço de vários quilómetros, entre Vila Pouca de Aguiar e Pedras Salgadas.

Na Península Ibérica haverá ainda cerca de 2.000 lobos, 300 dos quais em Portugal, na região fronteiriça dos distritos de Viana do Castelo e de Braga, província de Trás-os-Montes e parte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda.
No século XIX os lobos eram numerosos em Portugal, distribuindo-se por todo o território nacional, sendo que, em 1910, já se notava o declínio.
"Apesar do actual estatuto de conservação do lobo, os estudos até agora realizados sugerem que a população lupina em Portugal continua em regressão", alerta o Grupo Lobo no seu sítio da Internet, justificando que as causas do declínio do lobo são a perseguição directa, o extermínio das suas presas selvagens (veado e corço) e, actualmente, a fragmentação e destruição do habitat e o aumento do número de cães abandonados que com eles competem na procura de alimento.

Texto (resumo): http://www.maraoonline.com – Lusa/Abril 2008

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