(…Todos juntos LHE pedirmos seja servido apiedar-se das necessidades em que com a inclemência do tempo nos vemos!)
Mais um ano passou e... no mês de Maio, regressou uma vez mais a Festa do Senhor de Matosinhos. Começou no dia 12 e é sempre um período marcante de perfeito enquadramento entre o Religioso e o Profano.
Sem dúvida alguma, é uma das maiores Romarias do Concelho e do Norte do País, preservando secular tradição. As festividades irão manter-se até 10 de Junho, com o feriado do Senhor de Matosinhos no passado dia 02, Terça-Feira, perfazendo quase três semanas de festa.
O fogo de artifício estalou no céu de Matosinhos na noite de Sábado, dia 30 de Maio e no Domingo realizou-se, debaixo dum Sol tórrido e calor exagerado para esta época do ano, a tradicional Procissão, transportando-se o andor com a imagem, desde o imponente templo até ao Senhor do Padrão. Ano passado já havíamos descrito o tema “Senhor de Matosinhos”, relatando minuciosamente a sua história de muitos séculos.
Este ano, prestes a terminarem as festividades, gostávamos de vos deixar aqui um texto histórico, exemplo de muitas Procissões que se realizavam com a imagem Santa, em diversas épocas do ano. Dá para perceber um dos muitos «Milagres» atribuídos ao sempre adorado Senhor de Matosinhos, outrora conhecido por Santo Cristo de Bouças.
Esta narração, testemunha pormenorizadamente, uma das várias ocasiões que o andor foi levado em Procissão ao Porto, solicitado pelo Cabido, Câmara e Nobreza.
Enquadramento HISTÓRICO / RELIGIOSO
Quando o Santo Cristo de Bouças vinha ao Porto
(...) Decorria o ano de 1585 e reinava em Portugal, Filipe II de Espanha.
Tormentas continuadas e uma séca arreliadora, já com solenes procissões efectuadas pelas ruas da cidade a pedir chuva, sem que as preces fossem ouvidas, decidiu então o Cabido da Sé, a Câmara e figuras ilustres da Nobreza, solicitar a vinda ao Porto da imagem do Santo Cristo de Bouças, que se venerava outrora na Igreja do extinto Convento de Bouças e há muito transladada para a Igreja Matriz de Matosinhos.
Já em 1526 havia sido solicitada a sua vinda ao Porto “por causa da abundância das águas e mortes nas cheias do rio Douro”.
Agora, para “todos juntos LHE pedirmos seja servido apiedar-se das necessidades em que com a inclemência do tempo nos vemos”.
Saíu a procissão de Matosinhos, Freguesia do Concelho e Julgado de Bouças, ao dia 7 de Junho de 1585. Levavam o andor 14 sacerdotes, precedidos dos frades do Mosteiro da Conceição. O cordão de gentes de todas as classes ia engrossando o número de fiéis crentes e a curta distância da Colegiada de Cedofeita já aguardavam os Cónegos de joelhos e nos rostos as lágrimas escorriam. A Câmara, o Cabido e a Nobreza esperavam no largo à entrada da cerca, com milhares de pessoas.
As tropas Castelhanas aboteladas no Porto, associaram-se às homenagens públicas que foram rendidas ao Santo Cristo de Bouças. Por determinação do Comandante respectivo, de nome Pêro Bernardes, as tropas apostaram-se em ala no Campo do Olival, abatendo bandeiras e dando mecha à arcabusaria, quando a imagem passou.
A procissão entrou na cerca citadina pela Porta do Olival, desceu a Rua de S.Miguel – onde a esperavam os monges Beneditinos à porta do Mosteiro – depois a Rua da Vitória e Belomonte. Dobrou no Largo de S. Domingos para a Rua das Flores, meteu a S. Bento das Freiras, subiu para a Rua Chã, comprimiu-se debaixo do velho Arco da Sra. da Vandoma e foi direita à Sé, na Igreja de Santa Maria.
O regresso a Matosinhos fez-se depois da uma hora da tarde e o préstito meteu à Rua Escura, virou à Cruz do Souto para a Bainharia, desceu a Rua dos Mercadores, entrou na Rua Nova, subiu as Congostas e foi passar ao Arco de S. Domingos para entrar de novo na Rua das Flores, donde se encaminhou pela Ferraria para a Porta do Olival. Deixada a cerca, trilhou outra vez o caminho de Matosinhos.
Horas depois, logo se reputou de “Miraculosa” a intercessão e tão fértil foi o Ano!
Compilação/Resumo de Texto: António Cruz
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