sábado, 2 de maio de 2009

Dia da Mãe - 2009

A MULHER DO PEDRO

Aquela barraca da encosta sempre me feriu. Um dia, meti-me por um carreiro e fui lá ter. À porta, muito lixo. Cascas de batatas, restos de lenha, papéis, cacos e cagadinhas dos filhos.
Dentro, só duas tarimbas. Os pais dormem numa, com os filhos de colo. Na outra – uma ninhada de quatro. E a um canto, o lume.
Há nesta família, sempre de pé, dois grandes problemas: o sustento dos filhos, com a magra jeira do pai e a ida à escola dos maiores.
O Pedro, quando a mulher deu à luz o segundo, disse-lhe meigamente que era bom não ter mais. Ela que sim. Não queria ofender a Deus e no fim de contas ELE havia de ajudar. Agora, porém, quando o Pedro lhe fala, fica muito triste, a pensar no pão e nos farrapos dos filhos.
Quem avalia a heroicidade desta mulher?
Oitenta por cento das pessoas chamam-lhe tonta!
E a escola? Os mais velhos querem ir à escola…
Os mais novos não podem ficar sozinhos…
O marido quer as sopas a tempo…
Será este o prémio que uma mãe recebe, por dar seis Portugueses à sua Pátria?
Quanto valem seis Portugueses?

Texto: Telmo Ferráz

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